Mais uma
vez, a região mais conturbada do planeta está em polvorosa. Desta vez, por um filme,
ofensivo, chamado “A Inocência dos Muçulmanos”, onde Maomé é retratado como pederasta,
pedófilo e coisas do gênero. É difícil entender o que leva um “diretor” a
realizar uma produção (?) que se proponha a denegrir e ofender o profeta
islâmico. Ainda que fosse para fazer algo minimamente histórico, tentando humanizar
o personagem ,vá lá...Mas desconstruir a imagem ao ponto de questionar sua
sexualidade e o apontar como molestador, foi como jogar gasolina na fogueira.
Trecho do filme aqui :
Os
principais telejornais brasileiros,alinhados com a visão distorcida da imprensa
americana, chamaram os que protestavam de ‘radicais islâmicos’. Será? Não faz tanto
tempo assim que Martin Scorsese deu a sua versão (baseada no livro de um
escritor grego) do messias dos cristãos. “A Última Tentação de Cristo”, de
1988, que mostrava o ‘Cordeiro’ como um homem comum, sujeito a falhas e com uma
ligação íntima com Maria Madalena (considerada pela Igreja como uma
prostituta), fez os fanáticos católicos se tornassem uns possessos, inclusive
chegando a agredir pessoas que queriam adentrar os cinemas para ver o filme. Nem
por isso foram chamados de “radicais cristãos”. Quatro anos antes, durante exibição do filme “Je vous salue, Marie”,de
Jean Luc Godard, mais protestos acintosos, alguns até violentos, querendo impedir
a divulgação da produção que era a versão de Godard para a união entre Maria e
José. Ao tentar modernizar a estória, foi bombardeado por todos os
lados, inclusive com ameaças a sua vida. Novamente,n ada de rótulos como ‘radicais’
por parte da mídia. Apenas “pessoas que protestavam contra um filme que
insultava Jesus”. Mas quando acontece com o ‘messias dos outros', aí tá liberado.
As primeiras
informações sobre o polêmico filme americano que vem infernizando o mundo árabe
era de que foi realizado por um diretor judeu, financiado por um grupo de
judeus bem abastados (bom, isso praticamente é pleonasmo...). Depois era a de
que o realizador, um católico praticante, fez a película por conta própria. Depois
os atores divulgaram nota dizendo desconhecer o conteúdo final do filme e nem
terem sido informados sobre a edição final. Sei...
Resultado parcial
de mais uma idiotice americana contra os muçulmanos: embaixadas atacadas, pessoas
feridas, patrimônio destruído, mais instabilidade numa região propensa a
conflitos e, acima de tudo, mortes. Após o assassinato do embaixador dos EUA, na
Líbia, o presidente Barack Obama endureceu o tom. Disse que a morte do
representante diplomático não será em vão e que justiça será feita. Após
isso, porta-aviões americanos foram deslocados para a região. A receita ideal de
quem busca aumentar a temperatura da
situação. Ao invés de contemporizar, se desculpar publicamente por algo cometido
por um concidadão e buscar a melhor forma de retratação, Obama fez o contrário. Eleva
o tom e faz ameaças veladas. O velho jogo do machão ferido que não aceita que
erra, e usa de truculência até nos momentos em que ele mesmo provoca o atrito.
E o
presidente dos EUA ainda fica numa situação delicada. Se buscar reagir de
maneira letal na Líbia, corre o risco de perder os parcos apoios que ainda tem
no Oriente Médio. Se deixar a situação correr em ‘banho-maria’, será rotulado
como um líder fraco.
Claramente, os
americanos não souberam lidar com os ocorridos nos atentados de 11/09/01. Jogaram
a culpa nos muçulmanos de maneira generalizada ( e sem provas contundentes) e
até hoje insistem em marginalizá-los e persegui-los. Para eles não há diferença entre terroristas
e árabes. Qualquer seguidor do Islã é um radical em potencial.
Na rabeira
dos atentados, pipocaram seriados na TV americana que exploravam o estereótipo
do ‘radical islâmico’. O principal,que serviu de propaganda da administração
Bush foi “24 HORAS”. Durante oito temporadas, Jack Bauer, o típico
herói ianque
(durão, solitário, invencível) botava pra quebrar contra qualquer um que não fosse
americano legítimo.Toda temporada tinha um vilão estrangeiro, mas em sua maioria eram
muçulmanos. Isso refletia a mentalidade tacanha do americano médio, mais
conhecido como ‘Homer Simpson’ : alienado, idolatra a TV, hino nacional é o
momento máximo (durante as transmissões esportivas,é claro) e xenófobo.
Os EUA e
Israel têm por hábito provocar o povo árabe, de tempos em tempos. Mas como nem
entre os muçulmanos há união, poucas vezes houve um protesto uníssono. Ao mexer
com o profeta Maomé, os ‘doadores de cérebro’ por trás dessa pífia produção
conseguiram enraivecer ainda mais os islâmicos, dando a eles o combustível
necessário para esbravejar em coro por todo o Oriente Médio. O desrespeito
habitual dos dois aliados motivou a onda
de protestos que só aumenta de intensidade .
A falta de
bom senso é alarmante. Desde a invasão ao Iraque e Afeganistão, os americanos
veem tripudiando contra toda a população árabe. Desde o momento em que soldados
da Coalizão foram flagrados usando cópias do Alcorão nos banheiros, tudo
mudou.As imagens de suspeitos de terrorismo sendo brutalmente torturados
correram o mundo. Fotos de soldados urinando em cadáveres de afegãos chocaram a
comunidade internacional.
Agora imagine
se integrantes do Talibã (milícia criada e treinada pelos EUA, no fim dos anos
70 para lutar contra os soviéticos) fossem flagrados usando cópias do Torá como
papel higiênico. Ou usando um crucifixo para praticar atos indecentes. Com
certeza o mundo se voltaria contra os árabes. Ataques americanos contra países
islâmicos seriam tolerados e até apoiados. Guantánamo teria sua lotação máxima,
devido ao número altíssimo de prisioneiros.
Comportamento
imoral gera comportamento imoral. Se houvesse respeito, ainda que mínimo, aos
muçulmanos, tudo isso poderia ser evitado. Mas do jeito que as coisas estão,nem
Jack Bauer daria jeito.
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