quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O EFEITO JOSÉ SERRA





Orgulhosos de terem o governo paulista desde 1994, com Mário Covas, os tucanos que, eventualmente também chegaram à prefeitura paulistana, sempre apostam em nomes de peso no seu principal curral eleitoral. Sendo o maior colégio e o que cacifa seus governantes a postularem a presidência, serve também para ‘massagear o ego’, já que um  ocupante do palácio do Bandeirantes tem peso nacional, quase rivalizando com o morador do palácio do alvorada; mesmo figuras insossas e sem carisma como Geraldo Alckmin (talvez por isso seu apelido:”picolé de chuchu”).

Parte desse sucesso tem sido posto à prova nessas eleições de 2012, e podem refletir em 2014, prejudicando duas coisas muito pessoais para o PSDB: manter o governo estadual e voltar a ocupar a presidência da república. Em ambos os casos, a solução (ou o problema,dependendo dos resultados futuros) passa por José Serra.


Após a morte de Mário Covas, sucessor natural de FHC à presidência (e que não teria dificuldades em derrotar Lula) Serra acabou vendo seu nome catapultar em âmbito nacional, pelo histórico e por ter sido ministro por duas vezes. Até foi razoavelmente bem sucedido, mas nos últimos anos tem se comportado como Lula em seu passado de muitas disputas, muito desgaste e nenhuma vitória. Essas coisas fazem uma diferença danada com relação as eleições em que se venha a disputar :o histórico de vitórias e fracassos.Brasileiro não sabe votar  e,muitas vezes,pra não dizer que escolheu um candidato que perdeu as eleições,ele vota em alguém que está na frente nas pesquisas,ou em um nome nacionalmente conhecido.Em sua limitada visão,faz com que pareça menos idiota ao ser questionado em eventual derrota do postulante ao cargo majoritário.

Mas nem nesse caso Serra tem tido sorte. Iludido por índices de pesquisa que pouco refletiam a realidade(ele aparecia como principal candidato à vaga de prefeito de SP,no começo do ano),ele fez a jogada de sempre: fingir não querer disputar o pleito,esperar ser convidado,forçar seu nome à cúpula,se possível evitar convenções e exigir ser aclamado pela executiva do partido. Um mise-en- scéne que infla o ego, mas que irrita as bases.




Ao conseguir seu intento, viu o começo oficial da disputa com um cenário que já conhece bem: seu alto índice de rejeição. Seu percentual de votos dificilmente passa dos 30%, mas  as pessoas que não simpatizam com ele sempre aumentam.
Encurralado pela surpresa (até o momento) chamada Celso Russomano, afilhado de Paulo Maluf (isso pesa no curso da eleição) e vendo o cone petista evoluir nas intenções de voto, sobrou pra José Serra ver seus ótimos números iniciais minguarem. É evidente que ele conta com fatores extracampo : o apoio incondicional da revista Veja(a revista oficial de Carlinhos Cachoeira) e de seu papagaio de plantão, Reinaldo Azevedo. O próprio passado de Russomano pode por a perder a disputa, já que em debates o candidato tucano é sempre afiado.


Haddad, o marionete da vez do PT, tem que arcar com o custo eleitoral de ver seu partido ser humilhado no STF, por causa do Mensalão. É com o que conta Serra e o grão tucanato. Isso, se a memória de tartaruga do brasileiro não esquecer da bandidagem condenada pelos ministros do Supremo,da noite para o dia.
Pra piorar, em 2014 muito do que aconteceu (e está para acontecer) no STF pode virar um pálido momento na história política do Brasil, e não interferir em nada nas eleições majoritárias.É com isso que o PT conta. O escândalo do mensalão eclodiu em 2005, um ano antes da eleição para presidente.Resultado em 2006:  reeleição de Lula. Num cenário que parecia caótico, o Partido dos Trabalhadores conseguiu a proeza de passar incólume pelo vendaval (salvo raras exceções) e ainda viu alguns dos envolvidos em mutretas, como João Paulo Cunha, José Genoíno e Antônio Palocci se elegerem deputados (e se esconderem, covardemente,atrás de imunidades, para que,se fossem investigados, que fosse pelo Supremo). Se no olho do furacão foi assim,imagine em 2014...


O tempo faz muita diferença. Hoje, poucas pessoas lembram (alguns eleitores costumeiros do PSDB convenientemente, fingem não lembrar) dos escândalos envolvendo a administração tucana. As privatizações,a compra de votos,o tráfico de influência de Eduardo Jorge, o Sivam,a Pasta Rosa, a distribuição de emendas para abafar CPIs...Praticamente tudo esquecido. O PT já conseguiu a proeza de fazer com que a população sequer se importasse com o brutal assassinato de Celso Daniel. Imagine o mensalão, daqui há dois anos...




Mas com o candidato tucano acontece o inverso. Suas sucessivas desistências de um cargo para concorrer a outro,dando ao eleitor a impressão(verdadeira) que um cargo é mero trampolim para outro mais alto, cobram um preço muito caro.E isso pode afetar o curso eleitoral daqui há dois anos.

Serra não tem dois anos. Tem que dar o seu recado (se é que ele o tem) agora,ou corre o risco de prejudicar o PSDB,que definha a cada dia(para desespero de alguns) se tornando um partido mediano.Apesar do bipartidarismo se mostrar um flagelo para o Brasil, ainda sim, o PSDB faz frente ao Lulismo (sim, porque sem o ex metalúrgico que chafurda em escândalos, não existiria o PT). Com eventuais fracassos em cenários importantes (SP,BH) as coisas podem mudar de figura.

















E há sempre o perigo de novos nomes aparecerem, como é o caso de Eduardo Campos, governador de Pernambuco. Está fazendo um candidato desconhecido do grande público vencer o ex ministro de Lula, Humberto Costa. Se isso se confirmar, Campos estará fazendo o que Lula já fez antes : do nada, tirar um coelho da cartola e fazê-lo ser eleito, e despontar como liderança política.

Para 2014,os tucanos tem Aécio Neves e Alckmin. O ex governador de Minas Gerais é um fanfarrão, bom vivant que é mais conhecido por ser um contumaz apreciador da noite carioca; o outro, um político fraco, sem carisma, sem poder de persuasão, fragilizado pela atuação constante do PCC no estado e sem chance de unir o partido em torno de sua candidatura. Trocando em miúdos: Serra é a chave para o sucesso. Se ganha, o partido tem fôlego para disputar as próximas eleições presidenciais em pé de igualdade com Dilma. Se perder, pode fazer com que o partido diga adeus ao sonho de voltar à presidência.





















O PT está fazendo a parte dele: ignorar que é réu no maior escândalo de corrupção da história do país,desacreditar o processo do STF (os mais incautos acabam acreditando; não há aqueles que creem em coelhinho da páscoa?) e tentando ditar a pauta da mídia. Com revistas como a Carta Capital e Caros Amigos tem dado certo. Mas quem está no poder são eles. Agem como o time que está ganhando,a espera do adversário. Basta que aqueles que tenham ambição descabida façam o jogo do poder de forma correta. Ou acabarão passando atestado de incompetência em praça pública.


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