Há quem considere apenas rock and roll o que é oriundo dos EUA e da Inglaterra. Mas esquecem-se de que em território nacional muita coisa boa boa já foi produzida. E cada época distinta produzia seus talentos.
CELLY CAMPELLO
Pode parecer ingênuo para os padrões de hoje, mas Celly Campello foi considerada a rainha do rock dos anos 50. Com dois sucessos avassaladores ( a versão de Stupid Cupid e Biquini de Bolinha) que a possibilitaram apresentar um programa de TV, ela e o irmão arregimentaram um batalhão de fãs. Fãs, estes, que ficaram decepcionados com a aposentadoria precoce da cantora, para se dedicar a seu casamento. Ela seria a parceira de Roberto e Erasmo em um programa da Record, mas sua aposentadoria precoce possibilitou que Wanderléia despontasse como nova sensação da música e parceira da dupla de sucesso.
A JOVEM GUARDA
Mas foi com a Jovem Guarda que o rock brasileiro tomava forma, ainda que fortemente calcado no Iê-Iê-Iê dos Beatles. Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléia formaram o trio que levou o movimento (que depois virou um programa de auditório na Record) para o país inteiro.
Além de revelar grandes nomes da música (como Ronnie Von, Eduardo Araújo, Wanderley Cardoso, Sérgio Reis, Ed Wilson, Jerry Adriani, Martinha, Vanusa, e bandas como Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Leno e Lílian, Deny e Dino, Os Incríveis, Os Vips e The Fevers), fez com que o Brasil entrasse em sintonia com o rock, que já tomava conta do mundo.
Quando Roberto decidiu alçar vôo solo em 1968 (sem o carimbo do movimento), deixando a atração televisiva, a Jovem Guarda começou a minguar. Mas foram quase cinco anos de sucesso, descontração e rock. Ainda que as composições pareçam açucaradas demais para os dias atuais.
Sem Roberto e Cia, o rock balançou, mas não acabou. Somente mudou sua vertente.
OS MUTANTES
Em meados da década (66 para 67) conhecemos Os Mutantes a primeira e melhor banda de rock psicodélico do Brasil. Sérgio Dias, Arnaldo Batista e Rita Lee mostravam que podia-se aliar música com atitude.
Com uma trajetória talentosa e conturbada (como uma legítima banda de rock) seus discos iam do psicodélico (inspirados nos Beatles) até o progressivo, calcado nos discos do Emerson, Lake and Palmer.
Com a separação de Rita e Arnaldo, o fim do grupo foi inevitável. Mas deixou um legado histórico incomparável ao longo de seis anos de existência ( com a formação original).
RAUL SEIXAS
Expoente do rock clássico, com irreverência e estilo único, Raul Seixas fez com que o gênero se consolidasse de vez, no Brasil.
Fã assumido de Chuck Berry, o "Maluco Beleza" se notabilizou como um contestador. Principalmente ao propor uma Sociedade Alternativa, no melhor estilo hippie. Admirador confesso de metafísica e história, via de regra suas obras eram permeadas por temas relacionados a essas correntes.
Nos últimos anos de sua vida, os vícios (drogas e bebidas) já cobravam um preço muito alto. Raulzito mal conseguia parar em pé em seus shows. A mídia começava a relega-lo a segundo plano. Foi quando, em 1989, um fã o procurou para formar uma parceria. Marcelo Nova, ex vocalista do ótimo grupo Camisa de Vênus, gravou em parceria com seu ídolo A Panela do Diabo, com irreverência e crítica social, bem ao estilo dos dois roqueiros. Uma despedida digna para um maiores nomes do cenário musical brasileiro, que morreria em agosto daquele mesmo ano.
A DÉCADA DE 70
Seguindo o ritmo do rock internacional, por aqui também surgiam bandas com rock mais pesado, como o grupo CASA DAS MÁQUINAS.
Ou bandas classudas como o MADE IN BRAZIL, o JOELHO DE PORCO e A BOLHA que tinham um estilo próprio e jamais se renderam aos ditames das gravadoras.
Além do grupo SECOS E MOLHADOS que, se não era puro rock, tinha um estilo que depois veríamos em nomes como Alice Cooper e Kiss. E acabou revelando o talento e a voz de Ney Matogrosso, com seu estilo performático.
RITA LEE
Após deixar Os Mutantes, em 1972, Rita Lee se enveredou pela carreira solo sem o mesmo sucesso que tinha com seu antigo grupo. Mas a medida que os discos iam nascendo sua segurança como compositora aumentava. Rita Lee & Tutti-Frutti começava a demarcar território. Mas após algumas brigas internas e quatro discos lançados, Rita seguia seu rumo, agora com o namorado Roberto de Carvalho. Antes de terminar a banda, eles lançam o último álbum que tinha o rock como essência: Babilônia. Um primor de trabalho que apresentava os hits Jardins da Babilônia e Miss Brasil 2000.
Rita não fazia mais só rock (era assumidamente pop), mas sua atitude era de uma roqueira legítima. Problemas com drogas, com a ditadura, prisão domiciliar, letras contestatórias contribuíam para sua aura de rebelde.
Com o passar do tempo, passou a se tornar uma artista mais e mais comercial, mas sempre polêmica e vivendo de seus sucessos de outrora, quando se falava em "Rainha do Rock".
Atualmente aposentada, ainda mantém a postura irreverente e suas aparições e entrevistas.
O CIRCO VOADOR E OS ANOS 80
O cenário dos anos 80 não parecia promissor, senão fosse por um lugar no Rio de Janeiro chamado "Circo Voador".
Em 1982 a lona era oficialmente baixada para apresentações de nomes que viriam a marcar uma geração: BLITZ (com Lobão de baterista), BARÃO VERMELHO, KID ABELHA, LOBÃO (na carreira com Os Ronaldos), LULU SANTOS. Ali era o 'marco zero' do rock dos anos 80.
R.P.M e GANG 90 também tomavam conta das rádios pelo país adentro.
Enquanto isso, em outras praças, pelo Brasil o "movimento" se espalhava. Em São Paulo: Titãs, Ultraje a Rigor, Mercenárias, Ratos de Porão, Inocentes, Ira! e o Golpe de Estado. Em Brasília: Aborto Elétrico (que depois se dividiu em Legião Urbana e Capital Inicial), Plebe Rude e Paralamas do Sucesso. Na Bahia: Camisa de Vênus. Num segundo momento, no Rio Grande do Sul: Engenheiros do Hawaii e Garotos Podres. Enfim, o rock rompia barreiras, fronteiras e contagiava o país.
ANOS 90 E O OCASO DO ROCK
Apesar de bons nomes como Raimundos, Pato Fú, Skank e Penélope, o cenário roqueiro no Brasil minguava com o interesse cada vez maior das gravadoras por músicas de gosto duvidoso, como Lambada, Pagode e Sertanejo. Os nomes do cenário musical dos anos 80 não conseguiam mais emplacar e com isso, o gênero perdia espaço sensível na mídia.
Conjuntos, outrora de peso, penavam para conseguir manter o nome na mídia. Muitas recorriam ao estilo Acústico (da MTV) para conquistarem fãs.
Mesmo em um novo milênio, as clássicas bandas mantiveram o nome, mas não a grandeza. Perderam a gana, a atitude. Os bons nos deixaram precocemente (Renato Russo, Cazuza, Júlio Barroso) e ficou um legado difícil de igualar. Algumas formações originais foram mantidas, outras se separaram, voltando mais a frente, quando as condições do mercado fonográfico possibilitavam.
O certo é que a nossa música já viveu dias melhores e, tal qual o cenário internacional, o rock and roll já viveu dias de glória, também em âmbito nacional.
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