Tudo começa
assim :
- Você mora
em uma casa,com quintal e um carro na garagem;
- Eu não
tenho nada disso,mas acho que mereço;
- Fazendo-me de coitado e contando com a inércia dos moradores das localidades mais distantes,cobiço lugar que não é meu e planejo tê-lo;
- O jeito é
conseguir na base da ‘fórceps’;
- Então, eu
vou chegar na sua rua sem anunciar;
- Depois vou
tentar entrar em sua garagem;
- Se não
der,vou quebrar seu cadeado;
- Vou riscar
seu carro e quebrar o para brisa;
- Vou
arriscar entrar pelo seu quintal;
- A hora em que
você perceber essa agressão à sua propriedade e,conseguinte à sua vida, começará
a temer por sua integridade física;
- Sabendo
que você não chamou as autoridades (e nem adiantaria,porque eles não fariam
nada),eu continuo avançando;
- Eu estou
bem armado,ao contrário de sua pessoa,então você começa a arremessar objetos em
minha direção;
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- Finalmente consigo quebrar um das janelas e começo a invasão;
- Seus
vizinhos que não toleram minhas atitudes de gestapo e reclamam em voz alta,mas
sabem que isso é inócuo. De novo,as autoridades não tem audácia de me
questionar;
- Você busca
refúgio no mais distante dos cômodos da casa. Em vão,pois uma hora eu chego lá;
- Ao entrar
eu começo a me sentir em casa;
- Mato seu
cachorro e seu gato,pois eles não tem valor pra mim,somente sua propriedade;
- Se antes
você ainda tinha acesso a sua cozinha e cama,agora,conforme me aproximo, tudo
fica mais escasso. Tem que comer o que der (se der) e dormir aonde for
possível;
- Eu nunca
me senti assim,livre,dono de algo que eu sempre mereci (ao menos o meu pai disse
que eu teria um lugar só meu,por ser seu filho dileto);
- Percebo
que você começa a gritar e chorar copiosamente...Em vão. Já não lhe disse que seus vizinhos não vão
intervir? E os moradores dos bairros mais distantes vão me apoiar,ainda que de
forma velada,afinal,eu sofri muito na vida (tadinho de mim e de minhas
lamentações...). Mas enquanto der certo posar de vítima,eu vou fazer o jogo;
- Ah,mas
continuo sendo alvo das coisas que me atiras...Algumas até machucam,mas pra
reforçar a minha postura de vítima em tempo integral vou dizer que você tem me
atacado violentamente e que foi precursor dos atos hostis nesse imbróglio.
Posso dizer o que quiser,que o jornal do bairro vai confirmar e me retratar como
um pobre cidadão sofrido,cercado por monstros que não me compreendem;
-
Aproximo-me cada vez mais dos aposentos principais. Aqui,tudo é meu por
direito. Você corre como um cachorro vira lata,que ladra mas coloca o rabo entre
as pernas,sem muita força pra me desafiar;
- Nem sinal
de sua pessoa na cozinha ou banheiro;
- Posso me
atrever a dizer que foi mais fácil do que eu pensava:pouca resistência ,apoio
ou conivência de vizinhos e autoridades e,com um padrinho mafioso que me dá
suporte em momentos assim;
- Finalmente
a casa é minha! E aonde está você? Ah,foi se refugiar no sótão...Tudo bem,aí
você pode ficar...Por enquanto. Se começar a me aborrecer ou voltar a jogar
coisas que machucam terei que eliminá-lo;
- Ouço você
resmungar das condições em que está vivendo...Não consegue perceber a sua
ingratidão? Eu estou,de forma magnânima, permitindo que você exista e ainda sim
escuto essa ingratidão? Terei que usar de truculência para que vossa pessoa
perceba o quão bondoso eu sou por deixá-lo viver aqui no MEU SÓTÃO;
- Seus parentes e amigos estão vindo aqui para lhe trazer comida e remédios,ou pelo portão,ou pela chaminé. Que petulância virem até aqui,em minha casa e querer entregar coisas a você,sem a minha permissão! Não entendeu que esse é meu feudo particular,seja por terra ,seja por ar?Nada escapa ao meu alcance;
- Escuto
rumores que você irá à justiça exigir reintegração de posse. Nem eu,nem meu
padrinho poderoso gostamos disso.Não que um juiz qualquer seja gabaritado para
julgar o caso que envolve minha pessoa (que sofreu muito no passado e tem
muitas lamentações...). Mas nem se julgar
a seu favor eu irei respeitar a decisão. Eu,meu sofrimento e lamentações, e o
meu padrinho poderoso temos uma cadência própria;
- E eis
você. Reclamando de mim,questionando meus métodos,lamentando a casa perdida
(que sempre foi minha;meu pai me disse isso),pedindo desesperadamente apoio da associação de
bairro e em via de ser extinto;
- E pensar
que muitos não acreditavam que teria minha casa própria,respeito dos vizinhos
(ao menos,sou temido por eles) e ser tão influente quanto meu padrinho;
- Que bom
que o mundo sorri pra mim,afinal já sofri tanto no meu passado e tenho tantas
lamentações...E por falar em lamentações,tem um outro vizinho me incomodando também;
Tudo começa assim :
- Você mora em uma casa,com quintal e um carro na garagem...
QUALQUER
SEMELHANÇA ENTRE O TEXTO E O QUE ACONTECE NA FAIXA DE GAZA É MERA
COINCIDÊNCIA...
Belo texto, muitas pessoas esquecem que violência gera violência, princípio tão básico e até infantil... a maioria das pessoas acham até um jargão indigesto, porém é verdadeiro, pois desalojar os palestinos pra combater o terrorismo e apossar pessoas de forma forçada, assim como fizeram com o carandirú, geraram grupos agressivos de oposição violenta..agora falar isso é apoiar os grupos de oposição violenta? É lógico que não, pessoas engajadas de direita tendem a defender a violência como solução dos problemas, discriminando todos como "vagabundos" mas nem todos os são...
ResponderExcluirExstem policiais honestos e bandidos de menor periculosidade morrendo na mão de polícias, assim como morreram no carandirú, assim como morrem na pelestina, pessoas que não aprovam a violência e que não são bandidos
Mas pros governos de direita são todos iguais...
abraços
E o pior,Marcos, é que as pessoas são levadas a acreditar que as coisas no Oriente Médio são de uma forma,quando na verdade são de outra. A manipulação custa caro,sacrifica a história e banaliza a vida. Um abraço
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