do site Pragmatismo Político
O menino, pequeno e
frágil, está lutando para ficar acordado. Sua cabeça pende para o lado, a certa
altura caindo sobre o peito. “Levanta a cabeça! Levanta!”, grita um dos
interrogadores,estapeando
o menino. Mas ele a essa altura não parece mais se importar,
porque está acordado por pelo menos doze horas desde que foi tirado de casa e
separado dos pais às duas da manhã, sob a mira de uma arma. “Eu gostaria que vocês me soltassem”,
ele choraminga, “assim eu poderia dormir um pouco”.
Durante
o vídeo, de quase seis horas, o palestino Islam Tamimi, de 14 anos de idade,
exausto e amedrontado, é continuamente pressionado, a ponto de começar a incriminar
homens de sua vila e a tecer lendas fantásticas que, acredita, seus tormentadores
querem ouvir.
Estas
imagens raras, vistas pelo Independent, oferecem uma janela num interrogatório
israelense, quase um rito de passagem que centenas de crianças palestinas
acusadas de atirar pedras enfrentam todo ano.
Israel
tem defendido fortemente seu comportamento, argumentando que o tratamento dados
aos menores melhorou vastamente com a criação de uma corte militar juvenil dois
anos atrás. Mas as crianças que enfrentaram a dura justiça da ocupação contam
uma história bem diferente.
(Menino se urina ao ser capturado por soldados de Israel)
“Os
problemas começam muito antes de as crianças serem trazidas para o tribunal,
começam com a prisão delas”, diz Naomi Lalo, uma ativista do No Legal
Frontiers, um grupo israelense que monitora os tribunais militares. É durante
os interrogatórios que o destino da criança “é decidido”, ela diz.
Sameer Shilu, de 12 anos,
estava dormindo quando soldados derrubaram a porta da frente da casa dele uma
noite. Ele e o irmão mais velho sairam do quarto com os olhos embaçados para
encontrar seis soldados destruindo a sala-de-estar.
Checando
o nome do menino na carteira de identidade do pai, o oficial israelense parecia
“chocado” quando viu que precisava prender uma criança, disse o pai de Sameer,
Saher. “Eu disse, ‘ele é muito jovem: por que você o quer?’ ‘Eu não sei’, ele
respondeu”. Vendado e com as mãos dolorosamente
atadas por algemas plásticas nas costas, Sameer foi colocado em
um Jeep, com o pai gritando que não tivesse medo. “Nós choramos, todos nós”, o
pai diz. “Eu conheço meus filhos; eles não atiram pedras”.
Nas
horas que antecederam o interrogatório, Sameer foi mantido vendado e algemado,
sem poder dormir. Eventualmente levado para um interrogatório sem um advogado
ou parente presente, um homem o acusou de participar de uma demonstração e
mostrou imagens de um menino atirando pedras, dizendo que era ele.
“Ele
disse, ‘este é você’ e eu disse que não era eu. Então ele me perguntou, ‘quem
são eles?’ e eu disse que não sabia”, Sammer conta. “A certa altura, o homem
começou a gritar comigo, me agarrou pelo colarinho e disse ‘eu vou jogar você
pela janela e te bater com um pau, se você não confessar’”.
Sameer,
que se disse inocente, teve sorte; ele foi solto algumas horas depois. Mas a
maior parte das crianças é amedrontada a ponto de assinar uma confissão, sob
ameaça de violência física ou contra as famílias, como a da retirada das
permissões de trabalho.
Quando
uma confissão é assinada, os advogados geralmente orientam as crianças a
aceitar um acordo e a servir uma sentença de prisão, mesmo que não sejam
culpadas. Alegar inocência quase sempre representa longas ações no tribunal,
durante as quais a criança quase sempre fica presa. Sentenças em favor das
crianças são raras. “Numa corte militar, você deve saber que não deve procurar
por justiça”, diz Gabi Lasky, uma advogada israelense que representou crianças.
Existem
muitas crianças palestinas em vilas da Cisjordânia sob a sombra do Muro
israelense da separação ou de assentamentos judaicos em terras palestinas. Onde
grandes protestos não-violentos se deram como forma de resistência, existem
crianças que atiraram pedras e patrulhas de Israel nessas vilas são comuns. Mas
advogados e grupos de defesa dos Direitos Humanos protestam contra a política
de Israel de tornar alvo as crianças de vilas que resistem à ocupação.
Na maioria dos casos, crianças de até 12 anos de idade são arrancadas da
cama à noite, algemadas e vendadas, ficam sem dormir ou sem comida, são
submetidas a longos interrogatórios e então forçadas a assinar confissões em
hebreu, um idioma que poucas tem capacidade de ler.
Leia também :
Deus,Cadê Você?
Jornal The Independent revela como Israel se vinga de crianças que atiram pedras
O grupo de Direitos Humanos B’Tselem concluiu que “os direitos dos
menores são severamente violados, que a lei quase sempre fracassa na proteção
de seus direitos, e que os poucos direitos dados a eles sob a lei não são
implementados”.
Israel alega que trata os menores palestinos no espírito de sua própria
lei para jovens mas, na prática, este é raramente o caso. Por exemplo, crianças
não deveriam ser presas à noite, advogados e parentes deveriam estar presentes
durante os interrogatórios e é preciso ler os direitos para as crianças presas.
Mas Israel trata isso como comportamento recomendando, não como exigência
legal, e os direitos das crianças são frequentemente violados. Israel considera
jovens israelenses como crianças até 18 anos, enquanto palestinos são vistos
como adultos a partir dos 16 anos de idade.
Advogados e ativistas dizem que mais de 200 crianças palestinas estão em
prisões israelenses. “Se você quer prender estas crianças, se quer julgá-las”,
diz a srta. Lalo, “tudo bem, mas faça isso de acordo com a lei de Israel. Dê a
elas os seus direitos”.
No caso de Islam, o menino do vídeo, a advogada dele, srta. Lasky,
acredita que o vídeo é prova de sérias irregularidades no interrogatório.
Em particular, o interrogador não disse a Islam que ele tinha direito de
ficar calado, e o menino foi ouvido sem a advogada, que tentou vê-lo mas não
conseguiu. Em vez disso, o interrogador pediu a Islam que contasse tudo a ele e
aos colegas, sugerindo que se fizesse isso ele seria solto. Um interrogador
sugestivamente socou uma das mãos, fechada, na palma da outra.
Ao final do interrogatório Islam, chorando entre soluços,
sucumbiu aos interrogadores, aparentemente dando a eles o que queriam ouvir.
Numa página de fotografias, a mão do menino se moveu sobre as imagens,
identificando moradores da vila que mais tarde seriam presos por protestar.
A srta. Lasky espera que a divulgação do vídeo mude o tratamento das
crianças presas nos territórios ocupados, em particular na forma como são
usadas para incriminar outros, o que advogados alegam é o principal objetivo
dos interrogadores. O vídeo ajudou a conseguir a soltura de Islam, do presídio
para prisão domiciliar, e pode levá-lo a ser inocentado das acusações de atirar
pedras. Mas, neste momento, um Islam silencioso não acredita em sua sorte. A
metros de sua casa em Nabi Saleh fica a casa de uma prima, cujo marido está
preso à espera de julgamento junto com uma dúzia de outros com base na
confissão do menino.
A prima é magnânima. “Ele é uma vítima, ele é apenas uma criança”, diz
Nariman Tamimi, de 35 anos, cujo marido, Bassem, de 45 anos, está na prisão.
“Não devemos culpá-lo pelo que aconteceu. Ele estava sob enorme pressão”.
A política de Israel tem sido bem sucedida num sentido: criar medo entre
as crianças e evitar que elas participem de futuras manifestações. Mas as
crianças ficam traumatizadas, sujeitas a pesadelos e a molhar a cama à noite. A
maioria acaba perdendo o ano escolar, ou abandona a escola.
Os críticos de Israel dizem que a política em relação às crianças
palestinas está criando uma nova geração de ativistas com os corações cheios de
ódio contra Israel. Outros dizem que ela mancha o caráter do país. “Israel não
tem nada que prender estas crianças, julgá-las ou oprimí-las”, a srta. Lalo
diz, com os olhos marejados.
“Elas não são nossas crianças. Meu país está fazendo muitas coisas
erradas e as justificando. Nós deveríamos servir de exemplo, mas nos tornamos
um estado opressor”.
Números de crianças detidas
7000. O número estimado de crianças palestinas detidas e processadas
pelos tribunais militares israelenses desde 2000, de acordo com relatório do
Defesa Internacional de Crianças Palestinas (DCIP)
87. Porcentagem de crianças submetidas a alguma forma de violência
física durante a custódia. Cerca de 91% tiveram os olhos vendados em algum
momento da detenção.
12. A idade mínima de responsabilidade criminal, conforme estipulado
pela Ordem Militar 1651.
62. Porcentagem das crianças presas entre meia-noite e 5 da manhã.
Olá Marcello
ResponderExcluirEsta é a verdadeira escola de formar terroristas.
Que tipo de sentimento é plantado nestas crianças quando conseguem se libertar? O ódio!
Já estive por lá e ficou claro para mim que o ódio que é fomentado é imenso, a disparidade de forças absurda.
Concordo com vc. E com a mídia escondendo a verdade fica difícil para que as pessoas tenham acesso a verdade no Oriente Médio. Um abraço
ResponderExcluirEsse é o novo nazismo e uma fantástica escola de terroristas! O que me impressiona é que o julgamento internacional segue o viés financeiro, portanto, a grande economia mundial, os EEUU, apoia esse estado de coisas para garantir que as economias dos judeus se mantenham em bancos americanos e, por conta disso, ninguém faz nada para combater esses crimes contra a humanidade.
ResponderExcluirApoiado meu caro João Caetano. A motivação americana como sempre é baseada em coisas menos importante do que a vida,mas pra eles é só o que importa : poder e dinheiro.Um abraço
ExcluirOlá senhores, gostaria de conhecer as fontes deste post, sou um curioso do assunto mas como estes "fatos" não são publicados pela mídia idonea, podem ser considerados duvidosos, com intenção de incitar uma furia desnecessária. Alguem pode me citar uma fonte idonea desses fatos?!
ResponderExcluirTalvez vc tenha dificuldade de leitura,mas vou lhe ajudar,passo a passo,pra que vc entenda. No início está a fonte ( o nome do site onde foi publicada a notícia). Depois,após ler o texto ,no final existe o LINK ORIGINAL.É só clicar e irá direto a ele. Se não conseguir,me avise ,tenho um sobrinho de três anos e estou acostumado a usar métodos pedagógicos com pessoas que tenham dificuldades.Um abraço
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