Sob a alegação de que estavam testando um
escudo contra ataques nucleares soviéticos na cidade de Saint Louis, militares
norte-americanos pulverizaram sobre a população local compostos empregados na
fabricação de armas químicas. É o que revela um estudo conduzido por Lisa
Martino-Taylor, professora de sociologia da Faculdade Comunitária de Saint
Louis que vasculhou documentos públicos e que verificou casos de envenenamento
por sulfeto de cádmio e zinco durante as décadas de 1950 e 1960.
Segundo o estudo, as Forças Armadas dos EUA
patrocinaram os testes especificamente em áreas socialmente segregadas, de
elevada densidade populacional, onde a predominância era de cidadãos negros e
de baixo poder aquisitivo. Em entrevista ao jornal local KSDK, ela se disse "muito
chocada com o grau de falsidade e sigilo” das autoridades responsáveis pelas
operações. “Eles claramente se esforçaram ao máximo para enganar as pessoas”,
concluiu.
Os
testes de armas químicas sobre humanos teriam sido produto do que Lisa chama de
Coalizão Manhattan-Rochester, um programa de pesquisas do governo
norte-americano que tentou mensurar no contexto da Guerra Fria o impacto de
reações radioativas no organismo humano. Experimentos semelhantes também teriam
ocorrido na cidade de Corpus Christi, estado do Texas.
A maior parte dos compostos
tóxicos era despejada por meio de aviões durante voos rasantes sobre os alvos.
No entanto, Lisa alega que pulverizadores também eram posicionados no alto de
arranha-céus e torres meteorológicas da região. Em 1953, foram ao todo 16
testes – não menos que 35 disparos de sulfeto de zinco e cádmio em Saint Louis.
A vizinhança mais afetada é descrita por Lisa como "uma favela densamente
povoada”, onde residiam cerca de 10 mil cidadãos de renda baixa, em sua maioria
crianças.
Esclarecimentos
Surpresos com os resultados
obtidos por Lisa, parlamentares estaduais pediram esclarecimentos às Forças
Armadas no fim de outubro. "A ideia de que milhares de cidadãos
do Missouri foram expostos a materiais tóxicos contra a própria vontade para
determinar seus efeitos sobre a saúde é absolutamente chocante. Não deveria ser
surpresa que estas pessoas e suas famílias estejam exigindo respostas dos
oficiais do governo", disse à AP o senador estadual republicano Roy Blunt.
A democrata Claire McCaskill,
coelga de Blunt, também pediu maiores esclarecimentos ao secretário do
Exército, John McHugh."Tanto o Senado quanto a Câmara dos Comuns
conduziram investigações ao longo dos anos 1990, mas nada nunca foi concluído",
explica Lisa Martino-Taylor. Para ela, o pior erro foi "jamais ter
procurado aqueles que realmente foram afetados".
Radiotividade
A pesquisa não foi capaz de
concluir com precisão se realmente havia compostos radioativos em meio à
mistura de sulfeto de cádmio e zinco. Em sua entrevista ao jornal KSDK, Lisa
diz que “há várias evidências de que houve compostos radiológicos envolvidos no
experimento”.
Sua hipótese principal é de que
a esta mistura foram adicionadas partículas fluorescentes, utilizadas para
“iluminar” os alvos e identificá-los para outros testes. Há suspeita de que uma
companhia chamada US Radium esteve envolvida com esta parte do
experimento."US radium já havia sido legalmente responsabilizada por
produzir uma tinta radioativa que matou diversas pintoras de azulejos
radioativos”, alega.
Questionada sobre os futuros
passos de sua pesquisa, ela revela que o importante foi ter revelado "que
tudo isso foi uma violação de toda a ética médica, de todos os códigos
internacionais e até mesmo de todo o regimento militar da época”.
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