(Eu odeio censura.Desde pequeno isso me incomoda,o fato de não haver liberdade de expressão. Quando descobri, tardiamente,o imbróglio entre o jornal vendido ao sistema 'Folha de SP' e o blog que satiriza as ações deste jornaleco,o 'FALHA de SP', resolvi comprar a briga. Aliás, acho que esse é o dever de toda a blogosfera: um ajudar o outro, ainda mais em causas como esta.)
Terminou com uma espécie de empate a disputa jurídica em primeira
instância entre Folha e Falha, e agora está começando a segunda. Já
protocolamos nosso recurso junto
ao Tribunal de Justiça (TJ-SP) pedindo a derrubada da censura da Folha à Falha
e a volta do domínio www.falhadespaulo.com.br. A sentença do juiz da
29ª Vara Cível de São Paulo informa que o juiz acolheu “parcialmente” o pedido
da Folha, determinando o “congelamento” do domínio “falhadespaulo.com.br”, mas
rejeitou todo o resto. Vale ressaltar alguns pequenos trechos da sentença em
primeira instância, divulgada em setembro:
“Descabida, ainda, a imposição, ao réu [os irmãos Lino e Mário Ito
Bocchini] do dever genérico e permanente de se abster de utilizar de imagens,
logomarcas e excertos do jornal da autora, o que equivaleria a proibi-lo de
parodiar o jornal, caracterizando indevida limitação ao direito de livre
manifestação do pensamento, criação, expressão e informação previsto nos arts.
5º, IV, e 220, caput, da Constituição Federal. Deve ser rejeitado, também, o
pedido de dano moral formulado pela autora. Tanto o nome de domínio quanto o
conteúdo crítico do website do autor podem ser definidos como paródia, a qual,
sendo exercício da liberdade de manifestação constitucionalmente garantida, não
caracteriza ato ilícito apto a ensejar reparação por dano moral”.
“O discurso do réu circunscreve-se nos limites da
paródia, estando o conteúdo crítico do website, inclusive a utilização de
imagens, logomarcas e excertos do jornal da autora, abrigado pelo direito de
livre manifestação do pensamento, criação, expressão e informação, previsto nos
arts. 5º, IV, e 220, caput, da Constituição Federal.”
“Nem mesmo um ´tolo apressado´ seria levado a crer
tratar-se de página de qualquer forma vinculada oficialmente ao jornal da
autora, pois a paródia, anunciada pelo nome de domínio, é reiterada pelo
conteúdo do website.”
O juiz passou esse sabão na Folha mas, por outro lado, manteve o site
fora do ar –daí a tese do empate em primeira instância. O site foi mantido fora
do ar por conta de uma suposta “contaminação do domínio” (palavras do juiz),
que estaria fazendo propaganda da revista Carta Capital. Explicando melhor:
quando o site estava no ar inventamos uma promoção, sem conhecimento da
revista. Prometemos sortear uma assinatura semestral da Carta (que pagaríamos
do nosso bolso) entre quem nos seguisse no twitter. Antes da data do sorteio,
veio a liminar nos censurando, e a conta do twitter também foi fechada. Além
disso, na lista de links na lateral do blog, tínhamos um link para a Carta
Capital (dentre tantos outros). O que o juiz entendeu é que, com essas duas
menções à revista, estaríamos favorecendo a Carta Capital, que seria, na visão
do juiz de primeira instância, “concorrente de leitores e comercialmente” da
Folha. Daí a conclusão de que o endereço da Falha estaria irremediavelmente
“contaminado” e não poderia mais ser utilizado. Nunca mais e por ninguém.
O curioso é que o juiz chegou a essa conclusão por conta própria, já que
a Folha, em nenhum momento de suas 88 páginas, sequer cita o nome da revista. E
é por aí que estamos centrando nossa defesa. O site da Carta Capital, assim que
saiu a sentença, aliás, soltou uma nota intitulada“E nós com isso?” ,
que anexamos ao recurso e recomendamos muito a leitura. É uma nota curta e
muito boa, que resume bem a decisão em primeira instância e indica um dos
caminhos que estamos seguindo em segunda instância:
“Como a maioria dos leitores deve saber, a Folha de S. Paulo conseguiu
censurar o blog Falha de S. Paulo, dos irmãos Mário e Lino Bocchini, que fazia
uma paródia do jornal. Censura mesmo, não aquela que o Estadão diz sofrer. O
blog está fora do ar há 368 dias. [nota nossa: hoje completam-se 542 dias]. Não perderemos tempo aqui a
comentar como a defesa da liberdade de expressão no Brasil é seletiva. Ela só
vale para proteger os amigos.
Curiosa, porém, foi a decisão do juiz Gustavo Coube
de Carvalho, da 29ª Vara Cível de São Paulo, que manteve o blog fora do ar.
Carvalho acatou os principais pontos da defesa dos irmãos Bocchini, mas
arranjou uma forma de manter a censura. Apegou-se a um argumento nonsense. Como
em qualquer blog, o Falha de S. Paulo mantinha uma lista de favoritos da qual
constava um link para o site de CartaCapital. Além disso, por livre e
espontânea vontade, os Bocchini criaram uma promoção no twitter. Haveria um
sorteio de assinaturas semestrais da revista para os seguidores. Frise-se: a
promoção foi criada por livre e espontânea vontade da dupla, que pagaria do
próprio bolso as assinaturas.
Mas o juiz entendeu que, ao parodiar a Folha e
criar a promoção no twitter, os Bocchini teriam o intuito de favorecer um
concorrente (quem? Nós?) do jornal.
O engraçado é que CartaCapital entrou no imbróglio
pelas mãos do próprio juiz. Nas quase cem páginas da ação redigida pelos
advogados da Folha ou nas outras tantas da defesa dos irmãos, o nome da revista
sequer havia sido mencionado.
Em consequência do envolvimento involuntário no episódio, resta fazer um
esclarecimento didático (em homenagem ao juiz Carvalho): o blog Falha de S.
Paulo não tem nenhum vínculo com CartaCapital. Os irmãos Mário e Lino Bocchini
nunca prestaram nenhum tipo de serviço à editora responsável pela publicação
desta revista. Lino, para quem não sabe, trabalhou anos no Grupo Folha e hoje
labuta na revista Trip, que igualmente não mantém qualquer ligação conosco”.
A argumentação do nosso recurso em segunda instância segue a seguinte
linha de argumentação:
1. A decisão de manter o site se baseia em uma questão que não consta na
peça inicial da Folha e não foi levantada em nenhum momento pelo jornal;
2. Não há nem nunca houve nenhuma ligação entre os réus (Lino e Mário Ito
Bocchini) e a revista Carta Capital;
3. Falar em “contaminação” do nosso endereço, ainda mais para sempre, é
claro exagero. O site ficou menos de um mês no ar e o próprio jornal reconhece
que não há concorrência comercial ao manter um link pra revista (tal qual a
Falha fazia) na parte de “revistas ” do UOL.
4. Por fim reafirmamos o que o juiz de primeira instância já deixou claro e
toda blogosfera concorda: trata-se de uma questão de liberdade de
expressão, e não de proteção à marca, como diz o jornal.
Por fim vale esclarecer um ponto: Por que não voltamos com todo
conteúdo, já que o juiz liberou isso, e ainda afastou a possibilidade de
pagamento de indenização? Porque é uma decisão em primeira instância e, da
mesma forma que estamos recorrendo em segunda, eles também podem recorrer.
Como o caso segue em litígio, caso a decisão final favoreça a Folha e seus pedidos originais de dinheiro, não temos como arcar –só a liminar determina multa de R$ 1000 por dia em caso de desobedecimento.
Como o caso segue em litígio, caso a decisão final favoreça a Folha e seus pedidos originais de dinheiro, não temos como arcar –só a liminar determina multa de R$ 1000 por dia em caso de desobedecimento.
E a Folha entrou ou não com recurso em segunda instância? Não sabemos. O
prazo para que isso fosse feito venceu na semana passada, mas eles podem ter
entrado com recurso e a peça ainda não ter sido publicada no Diário Oficial (o
que não tem prazo para acontecer, mas pode levar semanas).
Enfim, é sempre bom lembrar, estamos falando de uma briga um tanto
desigual. De um lado são dois irmãos “avulsos”, independentes, sendo defendidos
“pro-bono” (pagando apenas as custas do processo) por advogados bacanas
identificados com a causa –aliás, estamos de advogado novo nessa segunda fase.
Do outro está o maior jornal do país, com um gigantesco escritório de advocacia
fungando nas nossas costas. O que ajuda a equilibrar o jogo é o apoio
gigantesco que estamos recebendo de toda blogosfera, que entendeu que esse
caso, por seu absurdo e pelo seu ineditismo, é de interesse coletivo. E não dá
pra deixar barato o maior jornal do país, que vive pregando liberdade de
expressão e democracia, promovendo uma censura dessas contra dois blogueiros.
Se você puder nos ajudar nessa batalha e divulgar ao máximo essa nova fase do
caso e a atitude vergonhosa da Folha, agradecemos.
.
Mário e Lino Ito
Bocchini
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