A notícia
veiculada esta semana sobre a vinda de 6 mil médicos cubanos para trabalhar no
Brasil, em especial nas regiões carentes do país escancarou uma realidade
deprimente do sistema público de saúde brasileiro.
Sonho de
consumo de vários jovens, em especial da classe média, o curso de medicina é um
dos mais procurados nos vestibulares.
Fazem
residência e encaram os hospitais públicos como um meio para um fim, afinal
todos sabem que o real objetivo é adquirir experiência para trabalhar em
clínicas particulares que remuneram melhor, com uma jornada flexível. Estes
estabelecimentos, com o tempo, permitem aos “nobres” doutores realizar o que
sempre almejaram: trabalhar meio período, cobrando valores que variam de 300 a
800 reais por consulta, sem se esforçar muito. Com essa mentalidade, como estes
“profissionais” se adaptariam em regiões empobrecidas, como o Norte e o
Nordeste do país, por exemplo?
Nesse
cenário, os médicos cubanos se encaixariam melhor.
O Conselho Federal
de Medicina (CFM) já se posicionou contrário à medida. O curioso é que o mesmo
Conselho se cala sobre a discrepância dos dados vergonhosos que mostram o quão
distantes das regiões carentes os recém-formados querem ficar.
Uma
distorção dessas precisa ser corrigida e a forma escolhida foi essa. Política
ou não a decisão tem fundamento. E é imprescindível. Ainda que seja para que a incompetência federal seja escancarada.
Cuba é
referência nessa área em âmbito mundial, sendo citada até em um documentário do
americano Michael Moore SOS SAÚDE. A “Ilha” já havia emprestado profissionais
até para a Venezuela, quando Hugo Chaves decidiu implantar clínicas populares
nas regiões mais pobres do país. Surtiu efeito desejado, tanto que foi um dos
motivos da presidente bolivariano ter sido muito bem quisto pela população de
baixa renda.
Saúde é o ‘calcanhar
de Aquiles’ do governo brasileiro (de todos eles), seja por desvios de verba,
malversação de dinheiro público, má vontade ou incompetência. A crise é
endêmica e já passou da hora de ser superada, de se criar métodos para
preservar a vida do povo brasileiro que agoniza nas intermináveis filas dos
hospitais públicos. O Sistema Único já se mostrou insuficiente para gerir e
prover a população o atendimento digno de que tanto carece. A sociedade civil
assiste passivamente a degradação do sistema de saúde, Brasil afora.
Ainda que
pese o fator remuneração na hora de decidir trabalhar na rede pública (e é aí onde
Executivo falhou moralmente), também na hora de se peneirar o que é agradável
ou não ao profissional, o brasileiro também se sente aviltado. Pois, entre trabalhar
no tal “Sul Maravilha”, ou em algum lugar do Amazonas, a escolha é óbvia para o
médico.
Somos todos
brasileiros antes de sermos naturais da cidade X ou Y. Ao Executivo cabe dar infraestrutura e salário dignos aos profissionais. Aos doutores não desumanizar a saúde, já tão combalida. Nesse interim a nação padece por falta de consenso. Preservar a vida é um
dever de quem governa e também de quem faz o juramento de Hipócrates. Mesmo que para isso tenhamos que depender de outra nação.
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