Sei que parece heresia futebolística tecer alguma crítica à
seleção de futebol de 1982,do técnico Telê Santana,mas não pude me conter ao
ver um jornalista(?) fazer uma brincadeira em que a aquele time ganharia a Copa
do Mundo da Espanha.Constatei que certas pessoas ainda não superaram o
trauma(??)e continuam a lamuriar pelos cantos o quanto o ‘futebol arte’ perdeu
naquele fatídico dia.Peraí,perdeu?Vamos por partes.
É claro que uma seleção de futebol que conta com talentos
incontestáveis como Zico,Sócrates,Falcão,Éder,Júnior,Leadro e cia ltda, não
pode ser desprezada.Ao contrário,um time invejável e com um primor no toque de
bola.O mundialito realizado no ano anterior mostrou isso e credenciou a
“seleção canarinho” ao título,que não conquistava desde 1970(portanto a
cobrança era enorme).Telê soube reunir tantos talentos juntos para render o
máximo possível,mas o corte do atacante Careca o obrigou a escalar Serginho
Xulapa no time(claramente um peixe fora d’água ,em uma equipe com toques tão
refinados).
Com um começo que encantou a crônica esportiva europeia,o
time brasileiro criou um status de imbatível e,ao ter a Itália como adversária
nas quartas de final,a vitória já era dada como certa.Ledo engano.Aí começou a
comédia de erros da imprensa brasileira(como sempre).
Considerar a seleção italiana “galinha morta” foi um dos muitos equívocos naquela
semana.O resultado todos sabem,3x2 para a “Azzura” e com lamentos pelos quatros
do país.E esse é o ponto nevrálgico.NÃO FOI INJUSTO E NEM A SELEÇÃO DE TELÊ ERA
TÃO MARAVILHOSA E PERFEITA ASSIM! Havia cisão no grupo,onde cada jogador tinha
um contrato de publicidade individual ,que o obrigava a comemorar seu gol
próximo a placa da empresa que o estava pagando.O time era um primor no toque
de bola sim (hoje só o Barcelona se aproxima daquele time),mas a defesa não era
consistente e nem tinha volantes de contenção que desse segurança.Ao contrário
do time brazuca que era um grupo de craques,a seleção da Itàlia era um time
compacto,com bons jogadores,e em nenhum momento esteve ameaçado seu predomínio
durante a partida.Tanto que essa vitória culminaria com o título,de forma
incontestável.A “tragédia de Sarriá” como ficou conhecida pelas viúvas da
crônica esportiva, até hoje é lembrada pela derrota do futebol espetáculo em
detrimento ao futebol de resultados.Novamente um erro.A seleção da Itália vinha
mal das pernas devido a problemas internos,como em 2006 e,tal qual naquele
ano,as dificuldades fortaleceram os jogadores que fizeram de tudo para se superar.E,contra
a seleção brasileira,conseguiram, e com estilo.Sem sombra de dúvidas( e sem
ufanismo exacerbado) venceu o melhor.
Pode-se dizer que aquela derrota fez com que,no cenário
nacional,houvesse um retrocesso que culminou na seleção campeã de Parreira,em
1994.Justo.Até porque a cobrança por resultados era enorme e a escassez de
títulos colocava muita pressão na comissão técnica (quem quer que fosse).E se a
única coisa da qual o brasileiro se orgulha de ser bom é no futebol,não conquistá-lo por 24 anos era um
acinte.Mostrava sua fragilidade e sua
necessidade extrema de autoafirmação,saciada de tempos em tempos por conquistas
da seleção canarinho.Nisso,o pragmatismo de Carlos Alberto Parreira e de seu
parceiro Zagallo foi muito eficiente.
E quanto às viúvas,bom ,já se passaram trinta anos,então
está na hora de seguir em frente.
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