Há séculos os orientais vêm buscando formas
de entender seu corpo, adequar sua evolução espiritual ao dia-a-dia e aprender
com a natureza. Muitas filosofias oriundas da China, Japão e Índia se encaixam
nesse perfil. Tai Chi Chuan, Aikidô, Ninjutsu e o Kendô são alguns dos
exemplos. Artes forjadas na experiência adquirida ao longo de anos de
observação, na necessidade de preservação dos clãs e na busca por um “eu” harmonioso.
Com o passar do tempo, algumas pessoas viram
nos movimentos diferenciados,nos gestos que primavam pela plástica perfeita e
agilidade fora do comum uma maneira de
sobrepujar o inimigo. Entrar em contenda contra ele e ir à guerra, se preciso.
Daí, “arte marcial”. O próprio Samurai, tão distinto em sua honra, nada mais
era do que um serviçal do imperador japonês, sub-julgando outrem a favor do sistema. Fazendo uso da força e, sobretudo, de
sua habilidade com a espada, para fazer valer os desígnios do poder
constituído.
Outras modalidades (aí já não se pode chamá-las
de ‘arte’) surgiram e foram aos poucos mescladas e modificadas, fazendo com que
o senso de honra e respeito fossem, gradativamente, perdidos.
Criaram-se torneios, competições e todo o
tipo de ‘confronto oficial’ para que houvesse mais competitividade (através da
combatividade). Como que se houvesse algum mérito em conquistar uma graduação
ao agredir um colega que também busca evolução. A degradação chegou ao ponto de
se criar torneios para ver qual arte
marcial (aí, sem a ‘arte’) era melhor do que a outra.
Nesse quesito, ninguém foi tão bem sucedido
em desmoralizar as filosofias orientais, quanto Hélio Gracie.
Com seu filho Royce se tornando sucesso
absoluto nas primeiras edições da competição, seu ego não tinha mais
limites. A partir daí, todos os outros
filhos (e mais uma infinidade de parentes) acabaram participando da empreitada.
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A decadência moral veio com a oficialização do
torneio, se tornando algo mais amplo e rentável. Surgia o Ultimate Fighting Championship, vulgo
UFC.
A peleja atrai um número alto de fãs mundo
afora, ensandecidos com tamanha selvageria. A mídia se rendeu a perversão das
tradições do Oriente e resolveu dar cobertura ampla às edições do torneio e
parcela significativa da sociedade brasileira começou a tratar alguns
competidores como “heróis”, acredite se quiser.
Algumas pessoas não captaram a essência das
filosofias orientais. Preferem assistir a um banho de sangue em uma rinha
humana, do que enaltecer as coisas certas que harmonizam e equilibram a mente.
Excrescências como UFC, Vale Tudo e adjacentes fazem com que as
pessoas de mente tacanha, facilmente impressionáveis e com distúrbios
emocionais a levarem para o dia-a-dia os exemplos aprendidos no tatame ou no octógono.
Começam a se sentir valentes, imbatíveis, imortais. Donos de uma liberdade
ilimitada. Sentem que são capazes de qualquer coisa. Quando na verdade as lutas
praticadas apenas mascaram suas verdadeiras faces : inseguros, com autoestima em baixa e com disfunções das mais variadas.
Se esse é o caminho que o ser humano escolheu,
em detrimento à evolução, então pode parar na próxima estação.
Realmente o ser humano consegue deturpar tudo. As artes marciais são um exemplo claro de como o sistema , o dinheiro acaba destruindo a essência de uma filosofia. Com o cristianismo vejam não foi diferente. Hoje usam as idéias de Cristo para fazerem fortunas, construírem grandes templos.
ResponderExcluirAs artes marciais em sua essência é algo maravilhoso. Um exemplo de como o ser humano pode evoluir, corpo, mente e espírito, mas infelizmente estamos regredindo, dando asas a nossa agressividade. Infelizmente enquanto tivermos como modelo esse sistema baseado no lucro, na competição, na agressividade, na celebrização, no poder do mais forte, jamais chegaremos a algum lugar!!!
Verdade Celso. Muitos preferem se perder em algo que deprecia o ser humano, ao invés de perseverar em uma filosofia oriental que possibilite melhoras, que se torne uma ferramenta importante para que alguém evolua. Um abraço.
ExcluirRapaz esse UFC, Vale Tudo e outras porcarias me dão vergonha!Pior que isso está sendo passado as crianças pela mídia como positivo!
ResponderExcluirConcordo Ronaldo. E o pior é que a mídia propaga isso e proclama os lutadores como heróis do esporte brasileiro. Mais mal exemplo, não há. Um abraço.
ExcluirPrezado sr. Marcello,
ResponderExcluirÉ com satisfação que leio vosso artigo,
e com sentimentos opostos, misto de asco e horror
que presencio a destruição dos valores milenares das artes marciais. O que mais me irrita é o amplo apoio
da mídia a essa bestialidade toda. E ainda elogiam o
marginal que começou tudo isso pervertendo o Jiu-Jitsu.