sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A Degradação das Artes Marciais





  Há séculos os orientais vêm buscando formas de entender seu corpo, adequar sua evolução espiritual ao dia-a-dia e aprender com a natureza. Muitas filosofias oriundas da China, Japão e Índia se encaixam nesse perfil. Tai Chi Chuan, Aikidô, Ninjutsu e o Kendô são alguns dos exemplos. Artes forjadas na experiência adquirida ao longo de anos de observação, na necessidade de preservação dos clãs e na busca por um “eu” harmonioso. 




  Com o passar do tempo, algumas pessoas viram nos movimentos diferenciados,nos gestos que primavam pela plástica perfeita e agilidade fora do comum  uma maneira de sobrepujar o inimigo. Entrar em contenda contra ele e ir à guerra, se preciso. Daí, “arte marcial”. O próprio Samurai, tão distinto em sua honra, nada mais era do que um serviçal do imperador japonês, sub-julgando outrem a favor do  sistema. Fazendo uso da força e, sobretudo, de sua habilidade com a espada, para fazer valer os desígnios do poder constituído.

  Outras modalidades (aí já não se pode chamá-las de ‘arte’) surgiram e foram aos poucos mescladas e modificadas, fazendo com que o senso de honra e respeito fossem, gradativamente, perdidos.






  Criaram-se torneios, competições e todo o tipo de ‘confronto oficial’ para que houvesse mais competitividade (através da combatividade). Como que se houvesse algum mérito em conquistar uma graduação ao agredir um colega que também busca evolução. A degradação chegou ao ponto de se criar torneios  para ver qual arte marcial (aí, sem a ‘arte’) era melhor do que a outra.

  Nesse quesito, ninguém foi tão bem sucedido em desmoralizar as filosofias orientais, quanto Hélio Gracie.




  Praticante do Jiu-Jítsu japonês e idealizador do Jiu-Jitsu brasileiro, ele mesmo um lutador desde a década de 30, Gracie optou por mudar, a bel prazer, o original, colocando movimentos e golpes idealizados por ele, tornando a luta ainda mais agressiva e violenta. Não satisfeito, resolveu criar um torneio onde houvesse como provar que o que ele praticava era superior a qualquer outra modalidade: o Vale-Tudo. Sua insegurança aflorava ao ponto de ter que provar alguma coisa. A antítese da verdadeira filosofia oriental, que visava evolução e respeito ao próximo.

  Com seu filho Royce se tornando sucesso absoluto nas primeiras edições da competição, seu ego não tinha mais limites.  A partir daí, todos os outros filhos (e mais uma infinidade de parentes) acabaram participando da empreitada.


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  A decadência moral veio com a oficialização do torneio, se tornando algo mais amplo e rentável.  Surgia o Ultimate Fighting Championship, vulgo UFC.






  A peleja atrai um número alto de fãs mundo afora, ensandecidos com tamanha selvageria. A mídia se rendeu a perversão das tradições do Oriente e resolveu dar cobertura ampla às edições do torneio e parcela significativa da sociedade brasileira começou a tratar alguns competidores como “heróis”, acredite se quiser.

  Algumas pessoas não captaram a essência das filosofias orientais. Preferem assistir a um banho de sangue em uma rinha humana, do que enaltecer as coisas certas que harmonizam e equilibram a mente.




  Excrescências como UFC,  Vale Tudo e adjacentes fazem com que as pessoas de mente tacanha, facilmente impressionáveis e com distúrbios emocionais a levarem para o dia-a-dia os exemplos aprendidos no tatame ou no octógono. Começam a se sentir valentes, imbatíveis, imortais. Donos de uma liberdade ilimitada. Sentem que são capazes de qualquer coisa. Quando na verdade as lutas praticadas apenas mascaram suas verdadeiras faces : inseguros, com autoestima  em baixa e com disfunções das mais variadas.
 Se esse é o caminho que o ser humano escolheu, em detrimento à evolução, então pode parar na próxima estação.




5 comentários:

  1. Realmente o ser humano consegue deturpar tudo. As artes marciais são um exemplo claro de como o sistema , o dinheiro acaba destruindo a essência de uma filosofia. Com o cristianismo vejam não foi diferente. Hoje usam as idéias de Cristo para fazerem fortunas, construírem grandes templos.
    As artes marciais em sua essência é algo maravilhoso. Um exemplo de como o ser humano pode evoluir, corpo, mente e espírito, mas infelizmente estamos regredindo, dando asas a nossa agressividade. Infelizmente enquanto tivermos como modelo esse sistema baseado no lucro, na competição, na agressividade, na celebrização, no poder do mais forte, jamais chegaremos a algum lugar!!!

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    1. Verdade Celso. Muitos preferem se perder em algo que deprecia o ser humano, ao invés de perseverar em uma filosofia oriental que possibilite melhoras, que se torne uma ferramenta importante para que alguém evolua. Um abraço.

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  2. Rapaz esse UFC, Vale Tudo e outras porcarias me dão vergonha!Pior que isso está sendo passado as crianças pela mídia como positivo!

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    1. Concordo Ronaldo. E o pior é que a mídia propaga isso e proclama os lutadores como heróis do esporte brasileiro. Mais mal exemplo, não há. Um abraço.

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  3. Prezado sr. Marcello,
    É com satisfação que leio vosso artigo,
    e com sentimentos opostos, misto de asco e horror
    que presencio a destruição dos valores milenares das artes marciais. O que mais me irrita é o amplo apoio
    da mídia a essa bestialidade toda. E ainda elogiam o
    marginal que começou tudo isso pervertendo o Jiu-Jitsu.

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