Nunca pensei
que viveríamos dias como estes. De acompanhar pela internet grupelhos que
enaltecem um regime que primava pela repressão,em todos os sentidos,como a
ditadura militar.
Como
chegamos a esse ponto?
Nas redes
sociais há páginas e comunidades, onde pessoas defendem com vigor a volta do
regime de exceção. O principal motivo?Desencanto com a classe política, em
especial o PT.
Autoproclamado
um partido de esquerda (como se realmente houvesse isso...) o Partido dos
Trabalhadores (?) irritou a direita mais conservadora com sua ascensão (é
vívido até hoje Mario Amato, presidente da Fiesp, dizendo que se Lula fosse
eleito milhares de empresas iriam embora do Brasil; prova clara que Amato não
sabia o que, nem de QUEM estava falando). Isso porque as pessoas achavam que o
PT defendia os dogmas socialistas. Ledo engano. No poder eles se mostraram mais a
direita do que o antigo PFL (atual DEM). Nunca antes, na história desse país , se
viu um partido tão afundado em escândalos de corrupção. Com a revelação do
esquema chamado de “Mensalão”,as coisas recrudesceram. E, junto veio a cara de
pau de algumas figuras proeminentes do PT em desqualificar as investigações. Foi o
bastante para que as redes sociais se transformassem em campo de batalha virtual.
E é isso que
causa espanto, a forma usada para satanizar o PT e exorcizar demônios particulares.
Ao invés de optar por mobilização,recorrem a velhos subterfúgios, que cheiram a
mofo.Defendendo a volta do militarismo,como se isso fosse uma opção lógica e sensata.Não é.
Em países como Chile, Uruguai
e Argentina, houve também regimes brutais, tal qual no Brasil, mas as
pessoas não enaltecem os ditadores de outrora. Ao contrário.Os nossos vizinhos
(chamados ironicamente pela mídia tupiniquim de ‘hermanos’) chegaram ao ponto
de levá-los aos tribunais( no caso da Argentina).No Chile,apesar de ainda haver
meia dúzia de paspalhos alienados que defendem Augusto Pinochet,a imensa
maioria não sente saudades daquele período tenebroso.Sem contar que o grau de
politização destes países é infinitamente maior do que no Brasil.Se por aqui as
reclamações e os protestos se resumem a alguns ‘posts’ nas redes sociais,lá é
nas ruas,aos milhares,por vários dias seguidos,pressionando o governo.
A principal
justificativa é que os políticos da época do militarismo eram honestos, e os de
hoje não. Bom,os de hoje não são e os de outrora menos. Primeiro, porque era
impossível saber das eventuais falcatruas (eles controlavam as informações e as
notícias),segundo que os ‘proeminentes’ ministros e aliados dos presidentes APENAS
PARECIAM ser honestos. O ex-ministro
da Justiça Ibraim Abi Ackel, por exemplo,envolvido no contrabando das joias; Delfim Neto que veio a público
e admitiu que a maior obra pública da história,a
Transamazônica custou nada menos do que 12 bilhões de dólares, ou
aproximadamente 35 bilhões de reais(obra superfaturada). O ex-ministro Delfim Neto admitiu que a
obra "resultou num enorme fracasso e nunca ficou pronta”; Mario Andreazza
e as verbas milionárias para sua pasta que nunca chegaram a ser utilizadas; Golbery
do Couto e Silva, o José Dirceu daquele período, Paulo Maluf e os casos
Luftalla e Paulipetro. Sim, ele é um ‘filhote da ditadura’,como disse uma vez
Leonel Brizola.Os desmandos de Hélio Beltrão,com o aval da presidência. Enfim, nada de novo no front.
Pesquisando
nas redes sociais achei bravatas das mais variadas, inclusive uma em especial, homônima
de um momento constrangedor do nosso país, nos anos 60: o Movimento da Família
com Deus pela Liberdade que foi uma
série de manifestações públicas organizadas por setores conservadores da
sociedade brasileira.
O pretenso
‘movimento’ era a união de segmentos variados da sociedade da época, como a imprensa,
a igreja católica e a classe média, que pediam a intervenção das forças armadas
no governo de João Goulart, principalmente após seu famoso discurso no Rio, onde
propunha mudanças nos setores
educacional, fiscal, político e agrário. Todos inflamados por editoriais torpes de uma figura que
viria a ser conhecida como ‘braço direito’ dos militares : Roberto Marinho. Veja
que patrono tinha o regime recém instalado...
Após o GOLPE
(chamado de maneira cafajeste de “movimento”), todos os integrantes dos
segmentos que se sentiam incomodados com Jango pareciam estar plenamente felizes.
Mas bastou que a ditadura começasse a abater jornalistas, padres e freiras, e os
filhos da classe média, que todos começaram a perceber o enorme erro que
fizeram.Bom,aí já era tarde. O Congresso já não existia, o voto havia sido
abolido, a constituição rasgada,os direitos civis solenemente atropelados e as torturas e os assassinatos
estavam se multiplicando. Sem falar na lei de Imprensa (a Censura).
APÓS O GOLPE
-
O Brasil se transformou
num quartel de proporções continentais. O exército decidia,impunha,mandava.Diante
do poder absoluto,restava apenas obedecer.Pois o regime era :
* a negação das
liberdades e das garantias individuais
* autoritarismo dominante
* tinha que combater as
estruturas que lutavam por democracia
* incentivava a criação
de “Esquadrões da Morte” nos Estados da federação, pois isso ajudaria no
combate aos ‘subversivos’;
- instituíram a pena de morte,
pela primeira vez na história do país
“Decreto-lei 898, usando os poderes conferidos
pelo artigo 1º do ato institucional nº 12, de 31/08/1969, combinado com o
parágrafo 1º do artigo 2º do AI-5 de 13/12/1968
Parágrafo
único – se atos de hostilidade forem desencadeados: pena mínima, prisão perpétua;
a máxima, pena de morte”;
Será que os alienados de plantão sabiam disso?
Os mitos da época :
* o milagre econômico
* não havia criminalidade nas ruas
Estranho,mas não foi com JK que começou a revolução econômica e industrial no país? E não foi o Plano Real que elevou verdadeiramente a renda dos brasileiros? Que os militares tenham construído pontes, hidrelétricas e estradas, faz sentido. Afinal, passar mais de duas décadas e nem uma ponte construir seria o cúmulo da incompetência. Quanto a criminalidade, bom é sabido (menos pelos alienados de plantão) que quem controlava o tráfico de drogas era a própria polícia. Em SP, os integrantes do Esquadrão da Morte dividiam irmãmente as regiões da cidade.Criminosos havia.E eles usavam distintivo ou fardas.
Atrocidades de ambos os lados,
mas três me chamam a atenção:
* o padre Antonio
Henrique Pereira Neto, da Pastoral da Arquidiocese de Olinda foi amarrado de
ponta cabeça, em uma árvore, espancado, queimado, mutilado e castrado;
* os guerrilheiros do Araguaia,
após serem executados (mesmo após a rendição) foram jogados em um local com
vários pneus e foi ateado fogo nos corpos (isso dificulta o reconhecimento dos
corpos,pois o fogo consome com uma intensidade violenta);
* e a pá de cal no regime:
o brutal assassinato de Vladimir Herzog, em 25/10/1975, nas dependências do
tenebroso DOI-CODI;
Isso sem contar como as
mulheres eram torturadas (inclusive as grávidas), com eletrochoque em suas
partes íntimas ou penduradas no famoso ‘pau-de-arara’, sendo espancadas e violentadas
na frente dos companheiros; muitas vezes chegavam a óbito. Difícil sentir
saudades de um regime desses...
Portanto se
você defende o regime militar, faça um grande favor: desligue o computador e vá
dormir. Pois num regime totalitário PROTESTAR é proibido;se expressar é
proibido; o livre pensar é proibido; votar é proibido;discordar não é
permitido;direitos constitucionais inexistem.Porque se vivêssemos um regime
fascista, qualquer um que quisesse usar uma rede social e ofender um político
(como vem acontecendo,principalmente com Lula e José Dirceu,merecidamente)seria
levado aos porões do DOPS / DOI-CODI para dar explicações.Num regime
democrático pode-se difamar um político( e,convenhamos,isso é muito bom),sabendo que o máximo que poderia
acontecer seria um processo.Durante a vigência do AI-5 ,uma ofensa a um
presidente seria recompensada com tortura e prisão,no mínimo.Então pros amantes
dos militares sugiro que ou se alistem e usem aquela roupa démodé,ou se mudem
para países onde isso ainda existe,Porque num país livre quando há políticos
sem escrúpulos,os canais democráticos são plenamente cabíveis.Os protestos,a
mobilização popular( como os Cara
Pintadas),os projetos (como a Lei da Ficha Limpa,que é de origem popular),os
tribunais,a imprensa,todos são opção mais inteligente para contornar um erro em
um dos três poderes.
Há caminhos
que podem ser trilhados. Basta que não se escolha o mais fácil (e mais perigoso),
só porque se tem preguiça de sair do conforto da sala para ira às ruas e protestar.
Aliás ir às ruas e dizer em voz alta : ”abaixo o governo” só é possível em
regimes onde haja liberdade,por isso aproveitem.
Eu, como
idolatro democracia, liberdade e direitos civis, sempre vou defender esses valores,
em qualquer época da nossa história. E para aqueles que não curtem os mesmos
valores,tudo bem. Faz parte do jogo democrático discordar. Já em um regime
totalitário...
Fonte - Wikipedia
"A Autópsia do Medo",de Percival de Souza
Museu da Corrupção
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2011/08/poroes-da-ditadura-sitio-da-tortura.html
Fonte - Wikipedia
"A Autópsia do Medo",de Percival de Souza
Museu da Corrupção
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2011/08/poroes-da-ditadura-sitio-da-tortura.html
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