segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Dia em que os EUA abandonaram Nova Orleans




O Furacão Katrina destruiu uma parte dos EUA numa tempestade tropical que alcançou a categoria 5 da Escala de Furacões de Saffir-Simpson. Os ventos do furacão alcançaram mais de 280 quilômetros por hora, e causaram grandes prejuízos na região litorânea do sul dos Estados Unidos, especialmente em torno da região metropolitana de Nova Orleans, em 29 de agosto de 2005 onde mais de um milhão de pessoas foram evacuadas. O furacão passou pelo sul da Flórida, causando em torno de dois bilhões de dólares de prejuízo e causando seis mortes diretas.



O Furacão Katrina causou milhares de mortes, sendo um dos furacões mais destrutivos a ter atingido os Estados Unidos. O furacão paralisou muito da extração de petróleo e gás natural dos Estados Unidos, uma vez que boa parte do petróleo americano é extraído no Golfo do México. E essa foi a maior preocupação do governo naquele momento.

Em 29 de agosto, a maré ciclônica do Katrina causou 53 diferentes pontos de acometimento na Grande Nova Orleans, submergindo oitenta por cento da cidade. Um relatório de junho de 2007 feito pela Sociedade Americana de Engenheiros Civis indicou que dois terços das inundações foram causadas pelas múltiplas falhas nas barreiras da cidade. Não foram mencionadas as comportas que não foram fechadas. A tempestade também devastou as costas do Mississippi e do Alabama, tornando o Katrina o mais destrutivo e mais caro desastre natural na história dos Estados Unidos, e o mais mortal furacão desde o Okeechobee em 1928. O dano total do Katrina é estimado em 81,2 bilhões dólares americanos (em valores de 2005), quase o dobro do custo da tempestade do até ainda mais cara, o furacão Andrew, quando ajustado pela inflação.




É quase impossível determinar a causa exata de algumas das mortes. A relativa falta de status, poder e recursos colocaram muitas mulheres em risco de serem vítimas de violência sexual durante o furacão Katrina.

Os dados oficiais sobre que o desastre fez, nos Estados Unidos, atingiu 233 000 quilômetros quadrados, uma área quase tão grande quanto o Reino Unido. O furacão deixou cerca de três milhões de pessoas sem eletricidade. Em 3 de setembro de 2005, Michael Chertoff, secretário da Homeland Security, descreveu no rescaldo do furacão Katrina, que seria "provavelmente a pior catástrofe, ou conjunto de catástrofes", na história do país, referindo-se ao furacão em si mais a inundação de Nova Orleans.




Ao final de janeiro de 2006, cerca de 200 000 pessoas continuaram vivendo em Nova Orleans, menos da metade da população antes da tempestade. Em 1 de julho de 2006, quando novas estimativas de população foram calculados pelo Censo dos EUA, o estado de Luisiana mostrou um declínio da população de 219 563 ou 4,87%. Além disso, algumas companhias de seguros deixaram de segurar os proprietários na área por causa dos altos custos dos furacões Katrina e Rita, por ter levantado prêmios de proprietários de seguro para cobrir o seu risco.

Mas o foco da recuperação não era exatamente Luisiana. A preocupação do governo federal era com o Golfo do México, de onde vem a maior parte do petróleo americano, cujo as operações estavam paralisadas devido ao desastre natural.




A população foi sonoramente abandonada pela administração Bush. Em meio a uma guerra dispendiosa (Iraque) que demoraria a trazer dividendos (roubo dos recursos naturais do país) o pronunciamento piegas do presidente americano foi pra "inglês ver".

As razões para o abandono da cidade por parte do governo são várias – nenhuma lógica. Não tem a mesma relevância que Los Angeles ou Nova York. Por ter a maior população de afrodescendentes também faz sentido para um país com histórico de racismo rasteiro. 




Fornecimento de água e energia demorou quase seis meses para se reestabelecer. E gradativa e precariamente. Não havia vontade política. Houve comoção nacional quando a nação viu as imagens de quase 60% do estado embaixo d'água. Mas foi só. Como uma notícia velha, alguns dias depois as pessoas estavam procurando manchetes diferentes. Afinal, tragédia em horário nobre não é muito agradável.


As imagens são fortes. Muitas pessoas chorando, implorando por ajuda das autoridades incompetentes. O plano de evacuação da cidade foi mal executado. As pessoas foram alojadas de qualquer jeito em escolas e ginásios mal equipados. O cenário de guerra remetia aos países vítimas dos EUA. E, mesmo com toda a antipatia despertada pelos americanos, houve comoção mundo afora.



Mais de setenta países comprometeram-se com doações em dinheiro ou outras formas de assistência. Notavelmente, Cuba e Venezuela (ambos hostis ao governo americano) foram os primeiros países a oferecer ajuda, prometendo mais de 1 milhão de dólares, vários hospitais móveis, estações de tratamento de água, alimentos enlatados, água mineral, óleo para aquecimento, 1.100 médicos e 26,4 toneladas de medicamentos. Contudo, esse auxílio foi rejeitado pelas autoridades americanas. A soberba cobra um preço muito alto...

Imagine um estado poderoso como a Califórnia. O mais importante da federação e com o maior peso financeiro. Alguém acha que a ajuda demoraria a chegar se houvesse uma tragédia similar por la? Não. Mas na Luisiana, infelizmente sim.

A desculpa federal era a dificuldade em liberar recursos para reconstruir as cidades atingidas, em especial Nova Orleans, berço da música e cultura do país. O mais estranho nesse argumento é que historicamente, isso nunca foi um problema. Em todas as grandes tragédias que os Estados Unidos vivenciaram sempre houve pronto atendimento às vítimas. O incêndio em Chicago, a enchente em Nova Orleans em 1927, as queimadas na Califórnia, o falso atentado terrorista em 2001 e o terremoto em São Francisco são os principais exemplos. TODAS as cidades receberam apoio irrestrito e quase que imediato. Por que não desta feita?



George Bush era (é) um genocida. Sua preocupação prioritária era espoliar o Iraque, após o engodo do 11 de setembro. Tudo que ele dizia encontrava eco positivo na mídia corrompida. Mas na Luisiana as coisas pareciam as mesmas. Num cenário digno do Haiti, com bairros fantasmas, destroçados e entregues ao entulho, havia a possível contaminação da água, poucos mantimentos e ajuda humanitária indigna e insuficiente.


O "EFEITO FLÓRIDA", TUDO DE NOVO...

Para piorar, as eleições estavam se aproximando. A política, com desastre natural ou sem, não pode parar. Os interesses mesquinhos reapareceram e com eles as velhas fórmulas de manipulação do sistema.



Se na Flórida, a mais suja forma de adulteração de uma eleição deu certo, por que não repetí-la? Usando os mesmos artifícios nojentos de sempre. Em 2000, a população afrodescendente foi praticamente impedida de votar --as regiões mais pobres ficaram sem transporte público e cédulas eleitorais não chegaram aos seus distritos-- e isso foi decisivo para a eleição presidencial do mesmo ano. E na Luisiana poderia-se tentar a mesma sordidez. Bastava manter as barreiras para o retorno da população carente às suas respectivas casas. E, em pleno EUA, a tão propalada terra da liberdade, seus concidadãos eram tratados como clandestinos em sua própria pátria. Milhares de pessoas morando de favor, em condições precárias, sem poder voltar ao lar por um artifício nojento de uma governo desprezível.



O cenário de guerra era deplorável e a população era impedida de tentar buscar mudanças. O imbróglio não estava mais nas mãos da administração municipal, e sim da federal. Isso significava mais burocracia e maior dor de cabeça e recursos controlados. A FEMA (Agência Federal de Gestão de Emergências) foi pragmática. Sua providência foi disponibilizar alguns trailers para a população. Mas parece ilógico que meia dúzia de residências móveis possam suprir a demanda de milhões sem teto.

Os bancos se valiam das apólices de seguro vagas para não pagar o que deviam aos segurados. Eles se diziam impedidos de ressarcimento devido às cláusulas contratuais. Restava esperar intervenção federal, que não vinha.

Muitos que abandonaram a cidade de Nova Orleans, e o estado, dificilmente voltaram. Ao menos a curto prazo. Um grande número de pessoas conseguiu refazer a vida em outras localidades; como não viram vontade política para resolução dos problemas, preferiram ficar.


A criminalidade voltou em peso. A taxa de suicídio aumentou exponencialmente, assim como as doenças infecto-contagiosas. Desgraça pouca é bobagem.

Após o furacão não havia espaço suficiente para abrigar os corpos das milhares de vítimas. Mais uma vez, o jeito Bush de resolver impasses causou espanto: caminhões frigoríficos mantiveram os defuntos por meses, para eventual reconhecimento por parte dos familiares. Algo típico de pós-guerra. E o cenário apocalíptico atingia impiedosamente a cidade que é referência na cultura e gastronomia do país. Nada ali sequer lembrava isso. Ao contrário. O que se presenciava estava mais próximo da Berlim, em 1945, do que uma cidade americana em pleno século XXI.

Com a maior parte das casas abandonadas (mais de 90 mil) e sem a permissão total das autoridades para o retorno, um ano e meio depois as coisas não pareciam melhores. E a população de N. Orleans continuava a deriva.


Com o lento retorno, também veio o aumento da violência. Policias insuficientes (e mal pagos) eram o contraponto aos soldados da Guarda Nacional, braço militar usado em situações civis, mas que caracteriza o envolvimento direto e perigoso da administração federal. E era apenas eles que os habitantes viam. Soluções, não.

O dinheiro, ou melhor dizendo, a esmola paga às pessoas pela perca das suas respectivas residências era mediante exigências, entre elas a apresentação da escritura. Como provar algo cujo a documentação fora levada pela força da água? E como entregar de bandeja um local que moradores tinham a gerações? Além do fato que o ressarcimento era referente, na maioria das vezes, para reformar telhados e não indenizar pela propriedade perdida. Não houve bom senso da administração pública.


A lição que fica dessa catásfrofe é o triste exemplo de um país acostumada a ingerências em outras nações soberanas, com a desculpa de implementar "democracia e liberdade", quando o próprio quintal estava uma sonora bagunça. Os Estados Unidos não aprenderam a lidar com suas próprias deficiências e limitações, e são muitas.

Talvez antes de querer espalhar, à força,um pouco de seu estilo de vida ao resto do mundo, a tão decantada GLOBALIZAÇÃO, os americanos deveriam aprender a lamber s feridas que deixaram transparecer ao restante do planeta. Quando os olhos do mundo viram, estarrecidos, como uma super potência teve seu dia de país de terceiro mundo, um Haiti sem rumo e com futuro incerto.




Deus salve a América, literalmente.


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