Roqueiro até a medula nos
anos 70 e 80, integrante da banda Vimana (com Ritchie e Lulu Santos),
cofundador da Blitz e líder dos Ronaldos, João Luiz Woerdenbag
Filho, vulgo Lobão, já fez história na música brasileira. Autor
de clássicos como “Me Chama”, “Vida Louca Vida”, “Decadence
Avec Elegance” e “Revanche” era referência artística.
Nos áureos tempos
emplacou hits nas rádios, nas trilhas de filmes e novelas.
Sempre foi polêmico por
natureza. Casou com sua prima, assumiu publicamente (e chegou a fazer
apologia sobre) seus vícios nas drogas pesadas, provocava
presidentes (“O Eleito”, em homenagem a Sarney e “Presidente
Mauricinho” para Collor”), foi em cana por isso, homenageou os
colegas da cela (“Aí galera da 11!”em Vida Bandida) e espinafrou
colegas músicos, como Paulo Ricardo, João Gilberto e Guilherme
Arantes.
Quando se viu refém do
próprio sucesso, partiu para o ataque contra as gravadoras que não
lhe permitia espaço para novas composições.
Mas como tudo em sua vida,
a luta contra a indústria fonográfica foi efêmera. Cedeu, se
vendeu e acabou gravando um Acústico e voltou com o rabo entre as
pernas para o sistema, que
tanto combateu.
Mas
o que ocasionou esse estado de coisas?
Em
23 de janeiro de 1991,
já na curva descendente, ele foi convidado para participar do Rock
in Rio II,
mas erroneamente, na noite do metal. O público até que foi
paciente. Não houve tantos apupos assim; afinal, Lobão até tem um
ou outro som mais pesado. Mas
colocá-lo após o Sepultura (o xodó dos amantes do metal) foi de
uma estupidez bovina. Roberto Medina prima pelo pouco conhecimento
musical e isso foi mostrado naquele dia. Começou uma chuva de
latinhas e garrafas pra cima do cantor e sua banda.
Ele ainda tentou
usar um de seus típicos discursos panfletários. Não
adiantou. Xingou, abandonou o palco e tentou voltar. Ele até
poderia ter contribuído; bastava não ter levado a bateria da escola de samba Mangueira. Mas foi
como jogar gasolina em um incêndio. Todos
os copos e garrafas que ele recebeu enquanto se apresentava talvez
expliquem a razão para o cantor ter literalmente surtado nos últimos
anos. Provavelmente um dano cerebral irreparável.
Ou
como explicar sua conversão ao mais puro conservadorismo atroz? Suas
críticas e provocações recheadas de ressentimentos parecem ser
fruto de uma mente que já viveu melhores dias.
Ao
se tornar o mais novo colunista da pior revista semanal brasileira, a
Veja, túmulo do bom e ético jornalismo, Lobão
não cabia em si. Declarações de puro deleite ao ser parte
integrante do veículo reacionário que mais tem contribuído para o
atraso na discussão política brasileira, se tornaram momentos
constrangedores em sua outrora brilhante carreira.
Na
estreia disparou para todos os lados, mas em uníssono, contra a
esquerda, “um atraso”, segundo ele. Esquerda que ele, ainda que
involuntariamente, fez parte em boa parte de sua vida adulta.
Agora
cinquentão, recalcado, com fel para dar e vender ele se põe a
serviço do que há de mais retrógrado no país, fazendo o jogo sujo
e rasteiro de barões da mídia que não dão a cara a tapa, mas que
usam perfeitamente idiotas úteis, bobos da corte que servem para
mera distração, enquanto o jogo real ocorre no submundo.
Se
tudo isso não for culpa das garrafadas que ele levou durante o Rock
in Rio, então a coisa é mais grave do que parece.
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Eu escrevi recentemente um comentário sobre o Manifesto do Nada na Terra do Nunca. Chama-se Lobão, Patafísico. Creio que Lobão deve ter sido cooptado pelo instituto Von Mises e pela direita, que lhe ofereceu apoio, um norte e, daí...sei lá. Capilé. A indústria musical e o esquema das rádios nunca o perdoou e ele agora está investindo na indústria editorial e na web.
ResponderExcluirO sistema nunca perdoa totalmente quem ousa lutar contra ele.
Abs do Lúcio Jr.
Olha Lúcio, concordo que as brigas dele contra a indústria fonográfica rendeu muito "ranger de dentes", mas acho que ele padece também do fogo amigo. Ele acaba sabotando a própria carreira a troco de que? De polêmica? Prum cara que já teve o nome que ele ostentou, é degradante. Pra quem escreveu "me chama" e hoje escreve pra Veja, é patético. Um abraço.
ExcluirCreio, Marcelo, que o erro maior foi dele. Ele nunca se classificou como roqueiro, e sim como cantor de MPB, assim sendo, creio que hoje com Ivete Sangalo e Claudia Leite no Rock in Rio, daria pra ele perceber bem seu equivoco. Imagina a Claudia Leite no lugar dele? Ia ser bem pior. Ou mesmo colocar Chico Buarque ou Caetano, que ele inveja de forma ostensiva, Ele não define o que é e o que foi, em vez de simplesmente aceitar o que acham dele.Assim sendo tá ficando do lado de quem paga mais, de quem acha que o valoriza mais, ou simplesmente esta tentando copiar o mesmo modelo daqueles que ele inveja. É cara o cenário musical esta bem complicado. Em vez de aceitar que esta velho e incentivar novas bandas a fazerem sucesso se comporta como alguém que precisa continuar se aparecendo ainda que seja do lado do inimigo. Foi engolido pelo sistema. Abraços
ResponderExcluirAcredito que na verdade ele nunca foi de esquerda para agora estar na direita. Ele nunca teve rumo. Vem de berço esplêndido, mas atrapalhado. E cá pra nós: colocar a culpa nos dramas familiares não vai salva-lo. Tenho dó dele. Quando eu soube que ele ia escrever na VEJA apenas entendi melhor as coisas. Existe um ditado: Deus faz e coloca junto! Agora sim, vai descansar, encontrou seu lugar, saiu do armário. Que seja feliz!
ResponderExcluirVerdade, Expedito, ele apenas e tão somente saiu do armário, politicamente falando. Pena que isso envergonhe o passado musical dele. Um abraço
ExcluirO lobão é um traidor nato.E isso é ótimo. Eu sou apaixonado pelos traidores,As ideologias devem ser estupradas. Eu tenho uma tendência ao pensamento de esquerda,agora quando passo a me submeter a esse tipo de ideologia,quando perco a capacidade de problematizar essa vertente do que sou,ai pouco importa se sou esquerda ou direita, eu passo a ser um idiota. A vantagem do traidor é o suicídio que ele comete,ele destrói a própria idolatria. e isso é maravilhoso.
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