segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Fracasso da Fórmula 1





Se para os pilotos, para os cartolas e para alguns patrocinadores as coisas estão indo a mais de 330 KM/h, para a emissora brasileira que cobre o evento e para os saudosos de uma época mais exuberante, com pilotos brasileiros de verdade , com certeza fica uma ponta de tristeza e desapontamento ao ver o flagrante declínio do automobilismo no país.

Para os afortunados que puderam ver Emerson Fitippaldi, Ayrton Senna e Nelson Piquet em plena forma, acompanhar etapas com Rubens Barrichello e, mais recentemente, com Felipe Massa é brochante.

Emerson, o precursor, assim como José Carlos Pace, depois com Ayrton e Nelson, pilotos genuínos que honravam seus predecessores pavimentaram o esporte (se é que pode-se chamar assim) no Brasil.
Criou-se uma legião de fãs que se acostumaram a acompanhar corridas dominicais, com certo ufanismo, principalmente na era Senna.

Os pegas entre grandes nomes faziam a festa da Globo, que incentivava a rivalidade entre os brasileiros.
Com os títulos e as performances dos pilotos, a Fórmula 1 conquistava espaço cativo na grade de programação com índices expressivos.






Firmaria-se aí o nome do polêmico (e discutível) narrador Galvão Bueno, e da execução do 'Tema da Vitória, de Eduardo Souto Neto. O primeiro a ter a honra, foi Nelson Piquet, em 1983, no Grande Prêmio Brasil. Mas se tornou marca indelével das conquistas de Ayrton, com a voz embargada de Galvão dando o tom piegas.

Senna fazia o estilo "bom menino", apesar de jornalistas se queixarem de seu comportamento vingativo de contestar certas reportagens desfavoráveis, pedindo suas cabeças em forma de retaliação. Nelson sempre foi, assumidamente, o "bad boy", e Bueno se encarregou de deixar esses papéis bem claros para o público. Enquanto Ayrton seguia as normas de maneira protocolar, Piquet escrachava em público com tudo o que via de errado pela frente. Principalmente contra Galvão, nitidamente um leigo transmitindo as corridas, sem o mínimo preparo para tal evento. As gafes eram inevitáveis, assim também como as críticas de Nelson, via imprensa. O locutor adotou Senna como xodó, para mostrar que não se torcia as regras do jogo assim. O público, manipulado, graças a massificação da emissora, começou a tomar partido. Até hoje é comum as pessoas citarem apenas Ayrton, como grande piloto brasileiro, relegando Piquet ao limbo. Quem acompanhava de perto, sabe que a história não é bem assim.

Certo é que, depois daquele Grande Prêmio de Imola, quando Airton Senna foi vitimado na Curva da Tamburello, as coisas para a Globo nunca mais forma as mesmas.
Às pressas tentou alçar o novato Rubens Barrichello à condição de legítimo sucessor do tricampeão que acabara de falecer. E ele deixou. Talvez pela pouca experiência de vida, talvez por se sentir honrado e envaidecido pela coroa que era passada a ele (o ego)...O que realmente importa é que sua carreira nunca mais foi a mesma. Nem a Fórmula 1. Ao menos para os brasileiros.

A audiência, que era estratosférica aos domingos, pulverizando a concorrência (Sílvio Santos uma vez tentou comprar os direitos de transmissão), com o passar do tempo perdeu fôlego. O interesse do público, exigente, caiu. Na mesma proporção do rendimento de Rubens. Nem sua ida para a Ferrari conseguiu o 'milagre da multiplicação da audiência'. A cada prova, bem que o locutor tentava (ludibriando, mentindo, enganando) despertar os brios do telespectador. Em vão. Nem na escuderia italiana (com um Michael Schumacher ganhando tudo) isso aconteceu.

Para tentar manter um pouco da dignidade (???), o narrador jogava tanto o colega de equipe, quanto a Ferrari contra a platéia. Cada derrota era culpa dos mecânicos, que privilegiavam o piloto alemão, ou dos dirigentes da escuderia que não permitiam que o brasileiro ganhasse. Ainda havia ingênuos que caiam no truque.

Com o declínio de Barrichello, a ascensão de Felipe Massa, para a mesma equipe italiana, caiu do céu para a emissora dos Marinhos.

Mas se com Rubens as vitórias já eram escassas, com Massa então elas quase que sumiram. Tal qual números do Ibope dominical para a Globo. A concorrência se aproveitou. Mesmo sem se mexer muito. A Record costuma ganhar apenas com a exibição dos desenhos clássicos do Pica Pau.
O público cansado de ser enganado parou de acompanhar algo que outrora foi prazeroso, e hoje se tornou uma tortura.

Até pilotos recém chegados à Fórmula 1 conquistavam espaço, prestígio e títulos. Quase todos. Massa e Barrichello nunca foram nada além de aspirantes ao posto de pilotos medianos. Suas parcas (e magras) vitórias nunca foram nada além de propaganda enganosa.

Hoje, às vésperas de perder seu único representante no campeonato, a Globo vive a beira de um ataque de nervos. Já usou sua blitzkrieg publicitária para segurar anunciantes para a próxima temporada.

E terá que rever valores, enxugar gastos nas transmissões, se quiser manter o evento na grade. Mas, acima de tudo terá que reinventar suas técnicas de manipulação. Caso não haja um brasileiro na competição ficará quase impossível alguém se predispor a assistir algo que leva do nada ao lugar nenhum. Sem objetivos. Ao menos para um público exigente como o daqui, acostumada a torcer por grandes nomes do automobilismo nacional.



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