quinta-feira, 17 de julho de 2014

Jornalista judia comenta o holocausto cometido contra palestinos





TEXTO DE DEBORA CATTANI.




Gaza: coexistência não é prática do estado de Israel ´Coexista´: em texto, jornalista judia comenta o holocausto cometido contra palestinos. 11 de julho - 19:48 Coexista Por Deborah Cattani*, para o Entrefatos Sou judia, mas não de ventre judeu. A expressão pode soar absurda, mas para quem cresceu em comunidade judaica é natural. O verdadeiro judeu, para os radicais, é o que nasce de ventre judeu. Minha mãe se converteu quando eu tinha sete anos. Estudei seis em colégio israelita, sofri bullying por causa disso, no entanto, continuei judia. 



 Já morei em Israel, duas vezes. A primeira foi na infância, entre 1993 e 1995. Uma das piores épocas do terrorismo. Não me lembro de nenhum atentado, salvo ver minha mãe atônita na frente da televisão ao saber da morte Yitzhak Rabin, pouco depois da nossa volta ao Brasil. Tudo bem, eu tinha seis anos na época. Mas eu sempre fui politizada, talvez por ter pais intelectuais, talvez por interesse próprio. Ser questionadora não é fácil, você engole muito sapo pelo caminho. Aos 14 anos voltei para Israel. Sozinha. 





Morei a 15 minutos da Faixa de Gaza, num kibutz chamado Or Haner. Se você procurar no mapa, vê que é bem pertinho. O Google não consegue mostrar o trajeto entre eles, acho que porque Gaza é sitiada. Dessa vez fiquei pouco tempo, cinco meses. Fui para a escola como uma judia qualquer, tive aulas, ajudei no kibutz, andei pelas festas e passeei por cidades próximas. Israel é um país pequeno, cabe 35 vezes no Rio Grande do Sul, Estado em que moro atualmente. Apesar disso, é país de primeiro mundo, lindo, limpo, bem cuidado, único pedaço de terra com lençóis freáticos em todo o Oriente Médio. Voltei por inúmeras razões, decepção foi uma delas. Mesmo assim, cresci boa parte da vida no Brasil, distante do conflito. Tive uma educação judaica até os 15 anos, quando começou minha decepção diante da religião. 




Vou fazer um parêntese aqui: não sou antissemita. Acredito que o Estado de Israel possa existir, mas como estado laico, sem fechar fronteiras diante de preconceitos religiosos, ou seja, não sou antissionista. Para entrar no país, você passa por um longo processo, MESMO tendo passaporte israelense. Sou filha de professora e obviamente, como jornalista e mestre em comunicação social, não me tornei alienada. Não consigo entender essa guerra, que é tão próxima e tão irreal. O que exatamente os não-judeus nos fizeram para termos tanto ódio? Chamo assim, pois o estado de Israel é um estado JUDEU e não aceita outras religiões, salvo em Jerusalém, que pasmem, é uma cidade laica. Não são só muçulmanos que estão morrendo. Aliás, os árabes não têm uma única religião, existem árabes católicos, ateus e até mesmo judeus. 




O que o Estado de Israel está fazendo é desumano. Mais desumano que o holocausto, mais duradouro que o holocausto, e de forma mais pertinente pode ser chamado de holocausto, pois hoje em dia todo o mundo pode ver com os próprios olhos e MESMO assim, poucos reagem. Óbvio que a guerra tem dois lados e muitos judeus morrem também. Mas a proporção é absurda. A cada bomba lançada sobre Israel, 30 são devolvidas para Gaza. Dizem que três adolescentes judeus morreram… E as 14 CRIANÇAS que perderam a chance de ter uma vida longa em Gaza? O que é Gaza, você deve estar se perguntando… Eu vi com meus próprios olhos. Não, não é uma favela, mas se você, brasileiro, já viu um conjunto habitacional (moradia popular), é isso. Imagina você ser tirado do conforto da sua casa, do seu emprego, dos seus pertences e ser jogado num quarto com mais oito pessoas e viver no medo iminente de um ataque, sem poder sair deste lugar, pois o seu passaporte está para sempre condenado. Isso é o que os judeus fizeram em 1948. Isso é o que eu aprendi porque eu abri meus olhos. 




Nas aulas de cultura judaica na escola eu só ouvia como somos, nós judeus, vítimas do mundo, vítimas do nazismo, do terrorismo e, por isso, temos o direito de fazer pior. Tenho muitos amigos judeus, mas cada vez tenho menos. Cada vez que um deles posta um heil Israel no Facebook ou qualquer coisa dizendo “matem os árabes”, eu tenho um amigo a menos. Se vocês já assistiram o filme A Onda, é EXATAMENTE isso que o governo israelense faz com seus jovens. Já tive treinamento militar israelense, sei como funciona toda a lavagem cerebral e até entendo porque funciona, afinal, somos pobres vítimas. Tenho vergonha de dizer que sou judia em locais públicos. Tenho vergonha do meu passaporte israelense e tenho vergonha dessa cidadania. Fugi desse país, apesar de amar aquela terra. Prefiro dizer que sou brasileira e, neste momento em que todo mundo está com vergonha do Brasil por causa de futebol, eu nunca me senti tão bem em ser brasileira. 




Enquanto os outros velam a Copa do Mundo, eu levanto a minha bandeira de “eu não pertenço a Israel”. Eu espero que a mídia faça um trabalho melhor deste dia em diante. Chega de apoiar um estado que não é nosso e sim de TODOS. Estamos no século XXI e não na idade média, aprendemos a dividir, logo, chega de conquistar. A maior conquista é a boa coexistência.




2 comentários:

  1. parabens por sua postura, sou brasileira tenho orgulho disso
    sou muçulmana pq tive op privilégio de poder escolher qual religiao professar
    todos os dias eu vejo o que os sionistas fazem aprendi a dizer assim por que se eu disse judeus eu posso ser processada aqui , mas vejo com olhos de brasileira a falta de humanidade dos israelenses e do resto que acha que isso é uma guerra , pra mim é só um genocidio porque guerra se da entre dois países a=onde existe exercito e aqui vemos pessoas , crianças , velhos e mulheres serem presos e mortos apenas pq os sionistas acham bom fazer isso , tem as costas quentes pq os porcos americanos lhes dão sustenção ... e onde países como o egyto viram as costas aos muçulmanos mesmo sendo um, precisamos fazer mais e os muçulmanos tambem , nao é justo que um país com um dos mais bem treinados exercitos do mundo, especialistas em terrorismo ( porque treinam até os ISIS) especialistas em luta corporal Crav Magá , se inspirem em se vingar em crianças , isso nada mais é do que covardia , portanto eu poderia ficar aqui escrevendo por toda a noite e nao diria tudo que tenho vontade , eu tambem já nao tenho mais amigos judeus porque nao consigo nao associar as coisas então quero distancia dessa gente , e ensino os meus filhos nao maltratem a ninguem apenas fiquem longe deles , e nao pode pactuar com a idéia deles de dominação de seres indefesos , gostei do seu blog , que tenha paz na sua vida e admiro pessoas autenticas .. boa noite

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    1. Obrigado Mari. Eu tbm tive problemas com minhas postagens, por sempre defender a causa Palestina. E aprendi tbm a diferenciar os judeus dos sionistas, porque os judeus ortodoxos, não gostam do estado de Israel e criticam o genocídio cometido contra o povo palestino. Já houve pessoas que deixaram de falar comigo ou me excluíram do Facebook por minhas posições.E me incomoda o fato da mídia mundial proteger o estado terrorista e nazista de Israel. Mas vamos lutando com as armas que temos. Um grande abraço e obrigado por prestigiar o blog.

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