quinta-feira, 15 de maio de 2014

O ETERNO MEDO DO PT FRENTE A GLOBO




No início dos anos 80, era comum ver integrantes do então recém-fundado Partido dos Trabalhadores criticando publicamente a Rede Globo.

Mas em 1989, durante as eleições presidenciais, o PT sentiu o poder de fogo dos Marinhos. Perderam a eleição, lamberam a ferida e tentaram se recompor para o pleito de 1994. Mas o estrago já estava feito. O partido começou a temer vivamente a emissora, então poderosa; o peso do látego nas costas de Lula foi sentido por toda a década vindoura.



Em 1994, a ordem era apoiar, ainda que de maneira mais discreta do que apoiaram Collor, o então candidato do PSDB Fernando Henrique Cardoso. Deu certo e repetiram a dose em 1998. De novo, era PT vs Globo. A '‘Vênus Platinada’' ganhara de novo.

Lula foi satanizado por Roberto Marinho de maneira escrota e sua “corrente de pensamento” contamina até hoje o discurso político, motivando comentários sujos e reportagens perversas, que fogem do cunho jornalístico. Veja, Estadão e Folha se incumbiram de ecoar o fascismo das redações das Organizações Globo de maneira desonesta. O partido pouco ou nada fez em contrapartida.


Em 2002, Luiz Inácio chega ao poder, contra a vontade de Marinho, mas sem a mesma rejeição de antes. Lula foi se moldando ao que o mercado queria, se comprometeu a manter boa parte da agenda tucana e pagou milhões para que um publicitário (o irascível Duda Mendonça, o que vendeu a imagem repaginada do Maluf e foi bem-sucedido) o ajudasse a realizar o sonho de se tornar presidente. Passou os 8 anos seguintes reclamando da '‘herança tucana’' mas, por via das dúvidas, deu continuidade a ela; com suas ressalvas e devidas melhoras, é claro.


Ao assumir o governo, o seu homem forte, José Dirceu, Ministro Chefe da Casa Civil, disse que a Globo era estratégica, ao ser indagado se mexeria em vespeiro. Foi chamado de "Golbery" do governo lulista. Quem conhece história sabe que isso significa coisa desagradável. 

Roberto Marinho, enfim nos deixava. O mundo se tornara um lugar bem melhor. Lula foi ao velório de Marinho, levou 7 ministros de Estado e decretou luto oficial por sete dias; muito mais do que o velho companheiro Leonel Brizola. O medo faz isso. A ingratidão também. A então prefeita paulistana, Marta Suplicy, mudou o nome da avenida Águas Espraiadas para “DR.” Jornalista Roberto Marinho. Esse doutor é tão estranho quanto sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, cadeira que ele praticamente comprou. Não era respeito, nem deferência; era o puro medo. A vontade de fazer média, fumar o cachimbo da paz era gritante. Mas uma vez Marinho, sempre Marinho. Não importa a linhagem.

O que se via era um PT acovardado frente a uma emissora que já dava sinais de decadência. Por que não aproveitar? 



Diriam os politicamente corretos que não seria propositivo ir a forra contra o grupo de comunicações, já que o partido era governo, agora.

Não aproveitaram a chance, então….

Em 2006, as garras do P.I.G. (Partido da Imprensa Golpista) estavam novamente afiadas e saíram em defesa do insosso governador de São Paulo Geraldo Alckmin, a cria mais indigesta do falecido Mario Covas. Alckmin não tinha forças para encarar uma eleição majoritária daquela proporção; mas seus amigos da imprensa, os mesmos que evitam falar do esquema do trensalão e culpá-lo pela seca tenebrosa que assola a Grande São Paulo, deram uma forcinha naquela época e o colocaram no improvável segundo turno. Tinha dedo do Ali Kamel, todo poderoso do “jornalismo” da emissora carioca. Em 2010 fizeram de novo, e ainda assim, o Partido dos Trabalhadores se limitou a reclamar vagamente da cobertura tendenciosa da imprensa durante as eleições.


Ali Kamel processa o blogueiro que denunciou Globo


Esse imbróglio fez com que houvesse muitas baixas na redação da Globo (jornal, revista, telejornais), expondo um lado podre do grupo. Aliado a inúmeros processos trabalhistas movidos por ex jornalistas da casa e da vendagem e da audiência não serem mais as mesmas, o momento era oportuno para se fazer o que na Argentina começava-se a discutir: a Lei de Médios, que limitava o monopólio e tornava mais plural a mídia.


Por que o embate entre Carlos Dornelles e a Globo é de grande interesse público


Anos depois, Cristina Kirshner conseguiu o intento; por aqui, Dilma recebe no Planalto um dos herdeiros do ex império e se dignifica a reclamar da cobertura dos telejornais da casa sobre a Petrobras e a visão negativa que estão passando. 


Argentina 4 x 0 Brasil


Como uma adolescente mimada, a presidente passou um claro sinal de fraqueza ao se humilhar perante Irineu Marinho. Uma estadista, se receber, deve receber TODOS os integrantes da imprensa.

Sem nominar, poderia sim expor sua insatisfação sobre as notas nos jornais, mas poderia (e deveria) partir para o ataque: propor aqui o mesmo que na vizinha Argentina: debater e limitar os monopólios dos barões da imprensa.



Lógico que suscitaria ranger de dentes; evidente que ela sofreria um sistemático ataque por parte da mídia manipuladora. Mas não é o que ela vem sofrendo até agora? O que mudaria? Quando foi que seu governo teve um momento de tranquilidade para seguir em frente? Notícias boas eram ignoradas. As médias distorcidas e o que era ruim foi exagerado ao extremo.

Ao menos o cenário midiático passaria por uma salutar mudança, ainda que tardia.

Com seus principais nomes atrás das grades e afirmando categoricamente que o julgamento do mensalão foi uma farsa, em momento algum a cúpula do partido nominou seu descontentamento. A mídia ajudou na farsa? Por que não citar a Globo abertamente? Foi a emissora da famiglia Marinho quem mais se deleitou com o julgamento. Faltou coragem, principalmente a Lula (como sempre) para desafiar a ex toda poderosa. 

Os petistas, outrora combatentes de esquerda se dobraram ao sistema e se apequenaram frente a um grupo de comunicação que só trouxe atraso ao país, com seu apoio incondicional à ditadura militar.





Agora, às vésperas de mais um pleito, Dilma começa a sentir o jogo sujo. Ela se vê no olho do furacão, enquanto o P.I.G. blinda os tucanos, Aécio (o novo queridinho), Alckmin e sua fraqueza contumaz e FHC, em arroubos de saudosismo. Pesquisas, se não são manipuladas, são 'guiadas' de maneira a ludibriar os eleitores. Típico.

Das outras vezes, o amedrontado PT conseguiu se safar aos 45 do segundo tempo e levar a eleição. 

Mas com uma imprensa raivosa e ressentida como a brasileira, sempre é bom tomar cuidado. Nunca se sabe quando um espirro de hoje, pode virar uma pneumonia nas páginas os jornais de amanhã.



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