Claudio Carsughi sempre foi um jornalista eclético. Cobria
Fórmula 1 e futebol com a mesma eficiência. Por isso causou estranheza sua
demissão sumária da Rádio Jovem Pan, de SP.
Mas problemas econômicos dos veículos de imprensa à parte, em uma de suas últimas entrevistas ele falou abertamente sobre um tema espinhoso: Piquet
vs Senna.
Esse missivista sempre foi plenamente favorável a Nelson
Piquet, pois viu ambos correrem. Mas a emissora oficial (aquela que todos
amam odiar) sempre manipulou as transmissões para que Ayrton Senna posasse de
bom moço aos olhos do público. Claro, afinal Piquet sempre escrachava com
Galvão Bueno quando este cometia seus impropérios nas transmissões –e eram muitos.
Carsughi consegue ser incisivo ao comentar sobre a postura artificial
de Senna com relação às pessoas. O mesmo Senna que, de acordo com Flávio Prado
da mesma rádio Jovem Pan e da TV Gazeta, pedia cabeça de jornalista que o
criticasse publicamente.
Eis o trecho da entrevista concedida ao blog do Menon, do
UOL:
Ayrton Senna
“Senna tinha habilidade inata, individual e favorecida por
ser canhoto, o que facilitava mudar a marcha e ter maior domínio do volante.
Piloto excepcional, sem discussão. Meu relacionamento foi cordial, mas vi
sempre a imagem do computador construído pela mãe. Em 1986, estava em Monaco
com Nilson Cesar, que estava começando a narrar F-1 na Pan. Na quinta-feira, o
Senna foi muito bem no treino. O paddock era lá embaixo e fui descendo com o
Nilson. O Senna foi subindo, provavelmente ele teria um meeting técnico entre
um treino e outro. Percebi que ele me viu, viu um cara comigo
e….tung…raciocinou rapidamente: 'Bem, se o Carsughi está aqui, a Pan vai
transmitir, se a Pan vai transmitir, eu vou parar.' Parou, conversou,
apresentei o Nilson, perdeu uns cinco minutos. Claramente, se não fosse o
representante de uma rádio importante e sim o repórter da Gazeta de
Pindamonhangaba, ele não iria parar. Uma vez, no Roda Viva, fui entrevistá-lo.
Levei meu filho Eduardo, que era estudante. Estávamos conversando e Senna perguntou
quem era. Apresentei e ele lhe deu um botton. Deu porque era meu filho, caso
contrario, não daria, nem perguntaria. Não chamo isso de mercantilismo, mas
esse 'se me serve, perco tempo, se não serve, não perco tempo', me
incomodava.''
Nelson Piquet
“Tinha algumas intuições e escondia de todos, o máximo
possível, para ninguém copiar. Aquela ultrapassagem sobre o Senna na Hungria é
uma das mais lindas da Fórmula 1. Como passar o Senna por fora? Como segurou o
carro, o normal era o carro sair de lado. Piquet era muito seletivo. Não
agradava ninguém. Dividia entre quem sabe e quem não sabe. Se você entendia e
não era sacana, ele ficava horas conversando. Para os outros, não dava atenção.
Acho melhor assim, mais transparente.''
Furo da morte de Senna
“Foi um pouco de sorte. Sempre trabalhei para jornais italianos. Depois da corrida de Ìmola, quando Senna bateu, fiz meu trabalho na rádio, voltei para casa e telefonei para uma redação na Itália para saber novidades. Na hora, estavam ligando para o hospital. O colega, para me ajudar, deixou o som aberto e foi entrevistar a médica. E houve uma frase assim dela. 'não posso falar nada, mas o eletroencefalograma dele é plano.' Morreu. Ponto final. Liguei para a rádio e mandei dizer que Senna havia morrido. Eu assumia a responsabilidade. Estavam fazendo um drama, falando em Nossa Senhora, falando que Deus é brasileiro, não dá para discutir, morreu, morreu. Não me emocionei, mas fiquei com pena, com dó, afinal é uma morte.''
Nenhum comentário:
Postar um comentário