Alguém já se perguntou o porquê dos clubes europeus estarem
em melhor situação do que os daqui?
Como alguns torneios de países pouco expressivos em âmbito internacional,
como o campeonato russo, turco até o dos EUA terem uma média de público
altíssima e cotas polpudas das emissoras de TV? Porque por lá, assim como em
outras praças igualmente lucrativas, quem dita as regras são os próprios
clubes, sem intermediários.
Desde o fiasco do futebol europeu no fim dos ano 80
(bilheterias pouco expressivas, violência nos campos e poucos investimentos)
que os times começaram a se mexer, tentando uma noiva alternativa para seus
graves problemas. No começo dos anos 90, as Ligas começaram a surgir. Aquilo
era o início da salvação financeira para todos eles.
O processo é simples. Consiste em tirar intermediários da
negociação (as federações), se unirem os clubes em ligas, procurarem formular
eles mesmos as regras do torneio e vender às emissoras de televisão. Pouco a
pouco o retorno começou a surgir.
São os times que investem e tem o retorno. As TVs começaram
a perceber o potencial e passaram a aplicar mais e mais dinheiro nos torneios.
Assim, puderam revender os campeonatos para outros países. Competições como o
Italiano e o Inglês se mostraram tremendamente rentáveis. Foi uma questão de tempo para que outros
países seguissem o exemplo lucrativo. Campeonatos de sucesso como o alemão,
francês, português, holandês, espanhol, entre outros.
Ano após ano os investimentos aumentavam e as contratações
de peso idem. Isso atrai mais público, vende mais produtos licenciados do
clube, possibilita mais investimentos nas bases e partidas em campos que hoje
chamamos de Arenas, com um padrão invejável e a venda dos carnês, algo como o
que o sistema do ‘sócio-torcedor’ nos dias de hoje. Clubes começaram a investir
em suas sedes como pontos turísticos. Barcelona, Chelsea, Real Madri, Bayer de
Munique são apenas alguns que aproveitam da paixão do torcedor para tornar algo
lucrativo a atrativo para os apaixonados pelo futebol.
Isso dá certo lá. Aqui parece que não precisam de nada
disso. Afinal, é o país que usa o selo
de ‘pentacampeão’ do mundo como qualquer desculpa para evitar copiar modelos vitoriosos
de outras praças. O país que tem um torneio menos rentável para os clubes,
estádios (excetuando-se as Arenas, que são poucas) que parecem pastos, regras
esdrúxulas e baixos índices de audiência na TV.
Isso tudo ficou mais evidente na recente polêmica envolvendo
a Federação de Futebol do Rio e seus afiliados, os clubes.
Desde as regras idiotas (assinadas pelos dirigentes), das
arbitragens suspeitas até a caça às bruxas, vitimando Vanderlei Luxemburgo do
Flamengo e o atacante Fred do Fluminense, tudo é um compêndio de erros. Nada
parece funcionar. O torcedor parece perceber a safadeza e vem se afastando,
gradativamente dos estádios e da frente da TV. Mas há conivência dos cartolas
com o sistema viciado. Isso sem sombra de dúvida.
Não adianta agora os presidentes do Fla-Flu vociferarem
contra os maganos da Ferj. O que devem fazer, aliás, TODOS OS CARTOLAS DE
FUTEBOL DO BRASIL DEVERIAM, é criar culhões. Parar de beijar a mão de
presidentes de federações e da CBF (como diz Juca Kfouri, a CASA BANDIDA DE
FUTEBOL) e partirem para uma liga, sem intermediários. Enfrentando a emissora
que tanto prejudica o esporte bretão e cobrar uma cota maior, ajudando os
clubes que vivem uma penúria sem precedentes.
Hoje o sistema podre passa por cartolas estaduais, que são
subservientes à CBF, que joga junto com a Globo; e todos querem que as coisas continuem exatamente
como estão. Nenhuma destas partes tem interesse que as coisas se
profissionalizem, caso contrário, seus interesses poderão ser comprometidos de
maneira séria. Não espanta que no Sportv, braço da Globo na TV por assinatura,
todos se mostraram contrários a Luxemburgo e criticaram duramente o protesto
que os atletas fizeram antes da partida Fluminense e Flamengo (5/4) em apoio ao
treinador rubro-negro.
O que vemos é uma relação perniciosa entre times e
federações, no melhor estilo prostituta e gigolô; gigolô esse que costuma ficar
com quase 60% das rendas dos jogos. Não há sistema que resista. Os cartolas
brasileiros, via de regra, são bundões. Não tem peito de enfrentar as próprias
federações estaduais, nem a CBF. Aceitam a condição de capachos e se mostram
satisfeitos. Enquanto isso, o futebol definha a céu aberto.
Unir-se em Ligas, excluírem as federações da equação, deixar
a CBF apenas como gestora da Seleção Brasileira. Essas são as receitas de
sucesso. Como em qualquer país que se considere sério.
A propósito: a primeira liga que se tem notícia foi criada
em 1987...NO BRASIL. A chamada Copa União foi o libelo contra os desmandos da
Confederação Brasileira de Futebol. E foi um sucesso. Pena que alguns traidores
do movimento acabaram roendo a corda.
Mas se já foi feito uma vez, pode ser repetido. Caso contrário,
as coisas continuarão no lodo, como é o caso agora. E derrotas acachapantes
como a sofrida pela seleção frente à Alemanha se tornarão rotineiras. E
tentativas de cercear a liberdade de expressão de treinadores e jogadores nos
Tribunais Desportivos, que são uma piada e inúteis, mostram apenas o quão
desesperados estão os parasitas do futebol em perder sua boquinha. Afinal, em
que outro país do mundo se ganha tanto por explorar os clubes, enquanto os
próprios times de futebol ficam mais e mais endividados? Por isso as raposas
não querem acabar com a mamata.