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terça-feira, 14 de abril de 2015

Carsughi diz que Globo só quer piloto vencedor, e 'jeito Senna' o incomodava





Claudio Carsughi sempre foi um jornalista eclético. Cobria Fórmula 1 e futebol com a mesma eficiência. Por isso causou estranheza sua demissão sumária da Rádio Jovem Pan, de SP.

Mas problemas econômicos dos veículos de imprensa à parte, em uma de suas últimas entrevistas ele falou abertamente sobre um tema espinhoso: Piquet vs Senna.



Esse missivista sempre foi plenamente favorável a Nelson Piquet, pois viu ambos correrem. Mas a emissora oficial (aquela que todos amam odiar) sempre manipulou as transmissões para que Ayrton Senna posasse de bom moço aos olhos do público. Claro, afinal Piquet sempre escrachava com Galvão Bueno quando este cometia seus impropérios nas transmissões –e eram muitos.

Carsughi consegue ser incisivo ao comentar sobre a postura artificial de Senna com relação às pessoas. O mesmo Senna que, de acordo com Flávio Prado da mesma rádio Jovem Pan e da TV Gazeta, pedia cabeça de jornalista que o criticasse publicamente.
Eis o trecho da entrevista concedida ao blog do Menon, do UOL:


Ayrton Senna

“Senna tinha habilidade inata, individual e favorecida por ser canhoto, o que facilitava mudar a marcha e ter maior domínio do volante. Piloto excepcional, sem discussão. Meu relacionamento foi cordial, mas vi sempre a imagem do computador construído pela mãe. Em 1986, estava em Monaco com Nilson Cesar, que estava começando a narrar F-1 na Pan. Na quinta-feira, o Senna foi muito bem no treino. O paddock era lá embaixo e fui descendo com o Nilson. O Senna foi subindo, provavelmente ele teria um meeting técnico entre um treino e outro. Percebi que ele me viu, viu um cara comigo e….tung…raciocinou rapidamente: 'Bem, se o Carsughi está aqui, a Pan vai transmitir, se a Pan vai transmitir, eu vou parar.' Parou, conversou, apresentei o Nilson, perdeu uns cinco minutos. Claramente, se não fosse o representante de uma rádio importante e sim o repórter da Gazeta de Pindamonhangaba, ele não iria parar. Uma vez, no Roda Viva, fui entrevistá-lo. Levei meu filho Eduardo, que era estudante. Estávamos conversando e Senna perguntou quem era. Apresentei e ele lhe deu um botton. Deu porque era meu filho, caso contrario, não daria, nem perguntaria. Não chamo isso de mercantilismo, mas esse 'se me serve, perco tempo, se não serve, não perco tempo', me incomodava.''


Nelson Piquet


“Tinha algumas intuições e escondia de todos, o máximo possível, para ninguém copiar. Aquela ultrapassagem sobre o Senna na Hungria é uma das mais lindas da Fórmula 1. Como passar o Senna por fora? Como segurou o carro, o normal era o carro sair de lado. Piquet era muito seletivo. Não agradava ninguém. Dividia entre quem sabe e quem não sabe. Se você entendia e não era sacana, ele ficava horas conversando. Para os outros, não dava atenção. Acho melhor assim, mais transparente.''


Furo da morte de Senna

“Foi um pouco de sorte. Sempre trabalhei para jornais italianos. Depois da corrida de Ìmola, quando Senna bateu, fiz meu trabalho na rádio, voltei para casa e telefonei para uma redação na Itália para saber novidades. Na hora, estavam ligando para o hospital. O colega, para me ajudar, deixou o som aberto e foi entrevistar a médica. E houve uma frase assim dela. 'não posso falar nada, mas o eletroencefalograma dele é plano.' Morreu. Ponto final. Liguei para a rádio e mandei dizer que Senna havia morrido. Eu assumia a responsabilidade. Estavam fazendo um drama, falando em Nossa Senhora, falando que Deus é brasileiro, não dá para discutir, morreu, morreu. Não me emocionei, mas fiquei com pena, com dó, afinal é uma morte.''






segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Fracasso da Fórmula 1





Se para os pilotos, para os cartolas e para alguns patrocinadores as coisas estão indo a mais de 330 KM/h, para a emissora brasileira que cobre o evento e para os saudosos de uma época mais exuberante, com pilotos brasileiros de verdade , com certeza fica uma ponta de tristeza e desapontamento ao ver o flagrante declínio do automobilismo no país.

Para os afortunados que puderam ver Emerson Fitippaldi, Ayrton Senna e Nelson Piquet em plena forma, acompanhar etapas com Rubens Barrichello e, mais recentemente, com Felipe Massa é brochante.

Emerson, o precursor, assim como José Carlos Pace, depois com Ayrton e Nelson, pilotos genuínos que honravam seus predecessores pavimentaram o esporte (se é que pode-se chamar assim) no Brasil.
Criou-se uma legião de fãs que se acostumaram a acompanhar corridas dominicais, com certo ufanismo, principalmente na era Senna.

Os pegas entre grandes nomes faziam a festa da Globo, que incentivava a rivalidade entre os brasileiros.
Com os títulos e as performances dos pilotos, a Fórmula 1 conquistava espaço cativo na grade de programação com índices expressivos.






Firmaria-se aí o nome do polêmico (e discutível) narrador Galvão Bueno, e da execução do 'Tema da Vitória, de Eduardo Souto Neto. O primeiro a ter a honra, foi Nelson Piquet, em 1983, no Grande Prêmio Brasil. Mas se tornou marca indelével das conquistas de Ayrton, com a voz embargada de Galvão dando o tom piegas.

Senna fazia o estilo "bom menino", apesar de jornalistas se queixarem de seu comportamento vingativo de contestar certas reportagens desfavoráveis, pedindo suas cabeças em forma de retaliação. Nelson sempre foi, assumidamente, o "bad boy", e Bueno se encarregou de deixar esses papéis bem claros para o público. Enquanto Ayrton seguia as normas de maneira protocolar, Piquet escrachava em público com tudo o que via de errado pela frente. Principalmente contra Galvão, nitidamente um leigo transmitindo as corridas, sem o mínimo preparo para tal evento. As gafes eram inevitáveis, assim também como as críticas de Nelson, via imprensa. O locutor adotou Senna como xodó, para mostrar que não se torcia as regras do jogo assim. O público, manipulado, graças a massificação da emissora, começou a tomar partido. Até hoje é comum as pessoas citarem apenas Ayrton, como grande piloto brasileiro, relegando Piquet ao limbo. Quem acompanhava de perto, sabe que a história não é bem assim.

Certo é que, depois daquele Grande Prêmio de Imola, quando Airton Senna foi vitimado na Curva da Tamburello, as coisas para a Globo nunca mais forma as mesmas.
Às pressas tentou alçar o novato Rubens Barrichello à condição de legítimo sucessor do tricampeão que acabara de falecer. E ele deixou. Talvez pela pouca experiência de vida, talvez por se sentir honrado e envaidecido pela coroa que era passada a ele (o ego)...O que realmente importa é que sua carreira nunca mais foi a mesma. Nem a Fórmula 1. Ao menos para os brasileiros.

A audiência, que era estratosférica aos domingos, pulverizando a concorrência (Sílvio Santos uma vez tentou comprar os direitos de transmissão), com o passar do tempo perdeu fôlego. O interesse do público, exigente, caiu. Na mesma proporção do rendimento de Rubens. Nem sua ida para a Ferrari conseguiu o 'milagre da multiplicação da audiência'. A cada prova, bem que o locutor tentava (ludibriando, mentindo, enganando) despertar os brios do telespectador. Em vão. Nem na escuderia italiana (com um Michael Schumacher ganhando tudo) isso aconteceu.

Para tentar manter um pouco da dignidade (???), o narrador jogava tanto o colega de equipe, quanto a Ferrari contra a platéia. Cada derrota era culpa dos mecânicos, que privilegiavam o piloto alemão, ou dos dirigentes da escuderia que não permitiam que o brasileiro ganhasse. Ainda havia ingênuos que caiam no truque.

Com o declínio de Barrichello, a ascensão de Felipe Massa, para a mesma equipe italiana, caiu do céu para a emissora dos Marinhos.

Mas se com Rubens as vitórias já eram escassas, com Massa então elas quase que sumiram. Tal qual números do Ibope dominical para a Globo. A concorrência se aproveitou. Mesmo sem se mexer muito. A Record costuma ganhar apenas com a exibição dos desenhos clássicos do Pica Pau.
O público cansado de ser enganado parou de acompanhar algo que outrora foi prazeroso, e hoje se tornou uma tortura.

Até pilotos recém chegados à Fórmula 1 conquistavam espaço, prestígio e títulos. Quase todos. Massa e Barrichello nunca foram nada além de aspirantes ao posto de pilotos medianos. Suas parcas (e magras) vitórias nunca foram nada além de propaganda enganosa.

Hoje, às vésperas de perder seu único representante no campeonato, a Globo vive a beira de um ataque de nervos. Já usou sua blitzkrieg publicitária para segurar anunciantes para a próxima temporada.

E terá que rever valores, enxugar gastos nas transmissões, se quiser manter o evento na grade. Mas, acima de tudo terá que reinventar suas técnicas de manipulação. Caso não haja um brasileiro na competição ficará quase impossível alguém se predispor a assistir algo que leva do nada ao lugar nenhum. Sem objetivos. Ao menos para um público exigente como o daqui, acostumada a torcer por grandes nomes do automobilismo nacional.



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